segunda-feira, 14 de julho de 2025

Carta póstuma – nunca é tarde para se despedir

 Oiê,

Não estranhe, mas hoje em dia a maioria se cumprimenta assim. Vim falar que quando se foi não tive a oportunidade de me despedir.
Saiba, então, que sinto muito... muito mesmo.
Do senhor herdei o sorriso torto – a inteligência deixei para outros sobrinhos – e o gosto pela leitura que compartilho contigo e esses inteligentes, risos.
Até me assustei quando achei seu livro preferido por um acaso e descobri ser o mesmo meu.
Após uma longa temporada da sua formatura fui a próxima da geração da Mainha a me graduar...
Fiz comunicação na época. Meu irmão e alguns primos se formaram na sequência. E eu depois de alguns anos cursei psicologia.
Não tenho sua genialidade (pois é assim que é lembrado), contudo de acordo com tia Cleusa amo feijão igual o senhor e ela me disse isto faz anos.
Às vezes, me pego pensando nas ideias que a gente ia trocar se sua presença não fosse só memórias. Será que seria progressista ou conservador?
Eu não sei... O mundo está um caos, a esperança é um exercício constante para a humanidade e eu definitivamente sou uma pessoa esperançosa.
Te escrevo, porque quero dizer que segue sendo lembrado. Mamãe, por exemplo, sente sua falta, ela fala de uma afinidade única entre vocês.
Digo a ela que como há melhores amigos vocês foram melhores irmãos e para ela você é insubstituível, como os outros dez também.
Apelidei-a de "bairrista", risos, porque ela é pela família sempre.
E por isto ela é um muro de proteção, uma ponte que une e um abrigo seguro para muitos de nós.
Painho partiu, mas Mainha segue lindona conosco. Teria orgulho dela. Ela é generosa, lúcida e sábia.
Não constituí uma "família" – mas tenho um amor colossal pela estreia do sol aceso na pressa dos dias. A impermanência não só brilha, ela ilumina.
A vida é uma espiral afetiva e a morte um tilintar (palavra que aprendi em "nosso" livro) que não para em quem fica. Como a sua em mim: ela ressoa!


Enfim, saudades...

Marcinha