Dia desses pensei em nós como evito pensar. Culpa do rádio que tocou algo nosso quando freei e por sorte o sinal fechou. Sintonizei afetos pretéritos com a música e desliguei quando percebi.
Cheguei em casa e sai te procurando online até lembrar que seu corte seco me inspirou a cortá-lo como me cortou. Bloqueado estava e não o desbloqueei.
Mantive apenas a memória dos arrepios no carro evocados pelo som.
Passada a sensação eu te escrevo. Sem outra pretensão além de reconhecê-lo como o mais próximo de um amor profundo e fecundo. Éramos jovens, tínhamos ideais e sonhos compatíveis com a penumbra da adolescência.
Você foi: uma condensação de afetos, um meio de fruição, o fluído da imaculada esperança; e tornou-se uma despedida silenciosa, esnobou minha versão sem ouvir-me e privou-me de um terno abraço – o derradeiro adeus.
Estamos longe, mas estou certa: perdeu uma ótima oportunidade de escutar a minha história e eu perdi uma excelente chance de – na época – focar em mim.
Já não ouço mais nada a seu respeito e inclusive não procuro saber. Sei desta que vos fala e te diz: fique bem, saudável, confortável e seguro – assim como estou no contexto atual.
♥️
Obs.: se você leu esta carta ela é destinada a um querido que não vejo a aproximadamente quinze anos. O cálculo do título é baseado na idade em que nos conhecemos; a gente estudava em salas diferentes, mas na mesma escola. Talvez este texto nunca chegue a quem o inspirou e está tudo bem – chegou em você. Vamos juntos!