domingo, 27 de novembro de 2022

Espelhos

Nunca sediei dentro de mim os assédios que sofri – foram eles escritos ou despejados na escuta dos terapeutas (pessoas essenciais tem horas). Se hoje compreendo que em certo grau todo mundo pode ter uma postura tóxica e abusiva meu parâmetro comportamental são as críticas que teci as minhas próprias experiências. E dá-lhe autoperdão e perdão.


Certas relações, as mais complexas, me condicionaram para o simples que habita em todos (e sem querer, de vez em quando, saio do meu – risos). Não fico por aí lixando as pessoas, vivi o suficiente para saber que custa muito quando  tentam arranhar sua imagem, isto é, pelo fato de te levar a extrair do seu caminho quem obstrui e perverte ele; normalmente um desafeto que um dia você – como eu – amou e estimou. É aquele velho adeus que a gente dá cravado no desapego e indiferença repentina. Sabe?!

Não tem como customizar uma verdade, porque ela vira uma mentira. Assim como isto é revelador, revela desamor. Aliás, mesmo a omissão mais honesta – e bem intencionada –  vaga entre a sabedoria e o engano. Falo daquilo que a gente esconde no desdém que, às vezes, demonstramos.

É muito cômodo ser fútil, a futilidade compõe a vaidade de quem ignora sua contribuição a seus relacionamentos ao se eximir da responsabilidade e coautoria de uma resenha afetiva que não se narra só; pelo contrário, alinha-se ao coração do outro ligado a válvula do amor em dois (ou mais). 

Não objetivo persuadi-lo ao carinho comedido; esta é uma ode ao respeito sem parcimônia – aqui o convido a se respeitar sem despeito e o convoco a jamais desrespeitar os demais; no meu ver, apesar de distintos, somos espelhos e mostramos o mundo (com o qual nos comprometemos) fora e dentro de nós.