terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Este ano,

Quantas pessoas você conheceu?
Quantas outras desconheceu?
O quanto dói sua retrospectiva?
O quanto acalma sua perspectiva?
O que te constituiu ente querido?
Quem te incluiu quando excluído?
Quem te preteriu quando acolhido?
Quais seus planos futuros?
Já os semeou hoje?
Qual sua memória mais 'gostosa'?
Ela é recreativa ou obsessiva?
Qual questão não te interroga,
Mas acalma suas indagações?
Qual resposta não aparece,
Mas equilibra suas emoções?
O que ficou deste ano;
Fica nele ou já se apegou?
Como 2021 foi a antítese da esperança,
Desejo que 2022 seja a tese dela
E a síntese do amor que sobrepujou.




quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Clichê

Tem essa coisa de mensagens de fim de ano que no findar de mais uma temporada da vida eu amo fazer. Mas hoje, não quero te desejar nada, a maioria das pessoas expõem que tem tudo em suas redes sociais, risos; quero te incentivar apenas a perseverar. Tenho feito isto, sigo em frente quando só tem chão sem destino fechado e me aproximo das boas amizades para, dentre tantos motivos, aprimorar a gentileza e generosidade que, às vezes, perdem espaço para minhas expectativas e (des)controles seduzidos pela ambição. Quero abrir mão desse meu lado mensageira para testificar o velho clichê que nos assegura como o valor do indivíduo ultrapassa o das coisas... Essa afirmação de fato é potente... Quando nos encontramos a partir da chegada ou despedida de alguém – partindo da relação com esse outro tão igual e diferente que ecoa na gente o som das dúvidas e certezas sobre o amor – comportamos em nós o que aprendemos de bom pelas piores lições.


domingo, 5 de dezembro de 2021

Sobre o último filme que assisti...

Hoje pensei: será que no lugar dela eu mataria aquele personagem? Quem? – você me pergunta. Um bon-vivant, nerd, um bom filho, quem se tornou marido, se tornou pai, quem virou ex, viveu com outra, um playboy ou algo assim... alguém mesquinho (talvez), ingrato (por que não?) ...  assassinado pela mulher que fez sua cabeça. Eu teria matado o herdeiro de um império se obcecada fosse por ele? Um filme baseado em fastos reais baseou minha conclusão sobre um crime passional (será?) que eu jamais cometeria.

No enredo tem um pai que o adverte sobre a “interesseira” (vê lá que uma hora amou, quem sou eu a julgar?), do outro lado tem um tio que exala poder sem qualquer domínio e ciência sobre ele, aí aparece aquele primo – filho do tio “poderoso” – que pensa fora da caixa e por assim ser é colocado fora daquelas que contém a marca da família. Um nome de grife cheio de gafes como toda boa dinastia. Paixão, ambição, beleza, luxo, poder dentro de uma casa formada pela parentela daquele que lá no início classifiquei como bom filho, mas não como bom marido (ative em dizer apenas que se tornou isso), porque no fim do filme vi que era tão “iludido” quanto aquela que encomendou sua morte.

Então, reservei-me ao direito de compartilhar sem nominar os personagens, quis trazer a mensagem que retive sem revelar a origem dela. De tudo que ficou foi: “amor” que mata é tudo menos amor. Não comprei a história de um crime passional, pela exuberância da assassina cheia de estratégias, não creio – como ouvi por aí – que deveria ter matado mais gente, penso exatamente o contrário não deveria ter matado nenhum de seus desafetos, nem seu ex-marido (pai de suas filhas inclusive) – deveria ter se afastado e elaborado o luto do status perdido.

No final de tudo nossa maior riqueza é composta pelas pessoas e não pelas coisas que adornam nossa vida, são nossos entes – mais queridos – dentro desse clichê, nossos maiores pertences; e se no cerne da nossa existência há um cofre de sentimentos nele estão os tesouros da compaixão, empatia e respeito. Quiçá a personagem principal estava fora de si, a pergunta que fica é e quando ela (se é que) voltar para dentro: ainda haverá espaço para amar de verdade e se perdoar? Não há conheço, todavia medito, porque romantizam muitos casos polêmicos como o desse filme e acho que isso impõe uma cultura da admiração por um perfil nada admirável, e nem por isso carente de cuidado que deve ser, sobretudo, estudado e assistido com zelo.  

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Não

Não se olhe no espelho,
Não se ame por inteiro,
Não conheça a si mesmo,
Não siga seus conselhos,

Não seja do seu jeito,
Não viva com esmero,
Não reze bons trechos,
Não publique o desfecho,

Não coma o recheio,
Não pontue os defeitos,
Não observe o contexto,
Não ajude um parceiro,

Não ouça um aventureiro,
Não se esqueça do ponteiro,
Não aproveite o travesseiro,
E não obedeça este texto.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Posições

Escrevo de ouvido.
Não detalho o que escuto,
Pois ouço demais e
Pouso o que entra no que saí.
Ler eu leio de boca,
Sou mais vocal, mais oral.
Firmo isto em poesias.
E as assinalo sem regalias.
Para que o amor não morra
E eu não escorra;
Para que a vida (re)produza,
E eu não a reduza;
Tudo isto porque:
Escrevo de ouvido,
Leio de boca;
Inverto essas posições
E leio de ouvido,
Escrevo de boca...
E haja inversões...

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Anonimato

Eu poderia até ser, só que não sou:

O lócus da curiosidade sexual,

O palanque epistemológico do amor,

Um abrigo para novos intelectuais,

A linha entre vencedores e impostores,

A base cultural do meu querido Goiás.

Não ocupo esse lugar tão popular.

Fui cativada pelo anonimato,

Fiz minha boca de cofre

E meu ouvido de relicário.

Minhas ideias não engaveto,

Exponho elas em notas com e sem papo,

Não faço outra coisa senão explicá-las;

Nessas palavras há letras desencalhadas;

No altar das frases há verbos livres,

Linhas soltas e dedos (im)pressionados.

Eu vôo em um céu de comunicados que alinho escrevendo mensagens e recados.

Sou a legítima anônima feliz;
Rodeio a margem da doçura e brinco,

Admirada com a imponência de um nariz.

 

 

 





sábado, 6 de novembro de 2021

O risco

O liame entre o efêmero e o eterno é o risco; e viver é arriscar-se, é um constante vir a ser, vir a ter e vir a estar. Não há nada mais potente que um instante sem antever qualquer prejuízo oriundo dele. O tempo vivido ocupa nas orações um espaço onde há na prática o verbo amar. O amor, porém, é ímpar, somos nós quem precisamos nos parear para não pararmos de conjugá-lo.


quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Caro poeta,

Quando achei na identificação um fio condutor para lição procurei sua mentoria.

Queria seu aval nada passional sobre a artéria da alma ligada a poesia.

Cometi um equívoco ao procurá-lo, sei disso...

Mentores não veneram as dores dos amadores e eu não passo de uma neófita na escrita.

Descobri isto ontem quando a lábia se fez tinta na história de boteco que – sem ver – eu escrevia.

Parecia um encontro onde me desencontrei pelas muitas narrativas.

Com as palavras em linhas sou boa, mas, ao vivo as desalinho em corações ao parti-los.

Não sei se me deixar levar, dentro desse leva e traz, ajuda alguém no trânsito da fofoca. 

Então, quando eu penso que achei meus pares atento-me aos fantasmas em comum;

Sombras, remotas, evocadas pela lembrança potente e efêmera de um amor confuso.

Engraçado que fantasias antigas só me assombram quando velhos discursos me cativam.

Não sou espadachim e sim escudeira preparada para defensiva de minhas próprias armadilhas.

Para atacar uso a rima e para defender-me a rebobino para combiná-la com minha sina.

E viva os pretextos que viram textos, não sei se sair – vamos rimar? – do contexto é ruim.

Há uma força pretérita no presente experienciada para que o futuro ganhe vida na hora dele.

Coube-me – para isto – arrumar a bagunça discursiva alojando na memória novas histórias;

Separando criador e criatura das suas obras e ligações mais íntimas e nada profícuas.

E como fazer isto tudo sem iludir-me que todos são lúcidos e felizes?

Haja discernimento, pois a sabedoria segue reclusa e a curiosidade viva.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Sete anos

Quanto tempo leva para estabilizar o mal estar de alguém? Como escutar a angústia de um sofredor patológico? Para quê promover o diálogo a quem vive de monólogos? O que seu estudo faz por gente assim? A pesquisa cura, monetiza ou trata? Em pouco mais de um mês completamos sete anos. Avisa a família – com todo respeito – que se forem ler isto: a ética desta carta esta na poética dela.

Nós que nos enfrentamos e discordamos o tempo inteiro, desconstruímos a velha ideia de vínculo para co-construir um só nosso – tomados de vaidade (porque a modéstia passou longe de ambos) e de inclusão. Afinal é sempre assim: eu o ouço e discordo (faço jus a alcunha de resistente), você me ouve dando corda (eu o vejo como insistente) e no fim a gente concorda pelas nossas trocas tão fecundas e pelo manejo que têm. Uma clássica relação terapêutica e constitutiva.

Sei que é admirado dentro e fora daqui; sei que é um dos meus exemplos, apesar de pesquisar ainda não pulsar no meu coração – especialmente quando sou a investigada da vez (brincadeirinha); sei que você me ensinou que, às vezes, sou  exagerada – mas o que é a vida sem  hipérboles (te pergunto)? Ela pode ser sóbria ou apática, depende de como isso ajuda ou prejudica – vai da pessoa.

Então, recapitulei inúmeras vezes que falei de você para alguém e a maioria delas como o anúncio de uma batalha, porque não é fácil lidar com a coragem de quem peleja com a gente na contramão da desesperança e desamparo – e esta, quem sabe , não é a melhor forma de indicar alguém: honrando quem te ajuda?

A ideia de que vou compartilhar o contato de quem media a cura em mim só é positiva se for ornada pela verdade mais genuína que aprendi a seu respeito: extremamente arrogante (por arrogar a astúcia que de fato tem), perspicaz além da conta e incrivelmente acolhedor, apesar de humano e por assim ser: falho, como os demais mortais. E é por tudo isso que ainda o recomendo, pela sua capacidade de vincular-se a gente como eu: estupenda, apesar das minhas legítimas inquietações, e especial dentro de um padrão absurdamente questionável – que você ampara, trata e acolhe, ainda bem.







terça-feira, 19 de outubro de 2021

Um número a mais

 

Houve um período em que relutei ser só um número, hoje não mais. O mesmo número pode ser diminuído, mas somado e apesar de dividido se multiplicar. Na matemática da vida a gente dobra, triplica, dizima, zera... Existe um cálculo dentro dos sentimentos que efetuamos em conjunto ou não. Às vezes, somos ímpares, outras somos pares. Enquanto cifras mensuramos tamanho, volume, largura, abrimos e fechamos espaços – estamos abaixo do ponteiro vendo o tempo passar de camarote. Participamos de um todo mesmo quando fracionados (matemáticos não me julguem, apenas uso de metáforas). Nossa visão de mundo depende muito da nossa perspectiva.  Em que ângulo você está neste instante? Estou a 360°. Agora escrevo uma alegoria, em seguida a descrição de uma foto e amanhã circularei tudo de novo ou ao contrário. E se eu amanhecer diminuída posso parear-me com quem soma e elevar meu ânimo a décima potência ou refletir no resultado das minhas escolhas que totalizei até aqui. Não se chega a uma solução sem números. A vida é uma incógnita e isso não precisa ser desgastante. Tudo bem se atualmente me enxerga como um seis e no futuro como um nove; tudo bem se você for oito e eu for dois igual a dez (e vice-versa), daqui uns dias eu posso ser cinco e você cinco – o importante é como nos confirmamos no problema da vez quando nem sempre formos recíprocos.

 

 






segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Para quem fez a (in)diferença,

Hoje, lembrei de quando era indiferente aos meus olhos. Você parecia que me conhecia, revelava-se encantado comigo; tinha a palavra fluída e os ouvidos entupidos, dizia escutar meu silêncio só que atropelava minha voz. Nós trocávamos olhares carregados de dúvidas e eu questionava o fato de não sentir nada quando todos te aclamavam. Naquela época tive sua atenção e você minha concentração. Tudo mudou. Fui ganha pelos versos sussurrados no peito e convencida por ditados passionais. 

Era nítido que esnobava meu potencial, nunca compreendi onde o decepcionei. Sei, direitinho, onde ruiu o arranha céu que ergui – foi na exposição do meu carinho sem eu saber. Abriu meus diários sem tocá-los, supôs que eu o amava quando só admirava e alinhou sua maledicência com minha ingenuidade tímida e pueril. Foi em nossos desencontros que revi a porta que me levava de volta a minha vida. Já em nossos, famosos, encontros desfilavam farpas e por fim devoção.

Não tem mais como odiá-lo, o ódio é um sentimento amador que não cabe no amor que teci. Hoje percebo suas razões; te vejo grande e generoso pela vocação humana que aderiu. Se o ignoro é pelo retorno aos tempos idos quando tudo que eu tinha era indiferença apesar da sua grandeza. E sabe do que mais: te desejo o paraíso, contudo longe do oásis presente em mim.





sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Feliz dia dos professores

 Hoje os meus olhos se voltam para você, cheios de admiração e respeito. Longe de mim te observar de outra maneira se não com uma extensa gratidão pelas lições teóricas e de vida. Se eu pudesse te avaliar, simbolicamente, até a nota dez seria pequena. Toda dedicação, esforço e luta não tem passado batido aos olhares atentos de quem vê sua peleja diária – seu exemplo, somado a tudo isso, é o seu legado.  E é com todo meu carinho que agradeço pela paciência e ensino de qualidade que tive através de você. Obrigada por impulsionar, de forma tão eficiente, minha aprendizagem. Aqui fica meu reconhecimento e apreço mais genuíno por esse ofício lindo e árduo que é o seu. 

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Márcia

Que significa guerreira dentro ou fora da guerra;

Que responde por Marcinha;

Que atende por Japiassú;

Que é chamada de Japi;

Que ama Márcia Filha;

Que assina Amaro do italiano: Amargo;

Que não é João, mas é Batista;

Que tem "de Souza" como a maioria;

Que se pudesse escolher chamaria Moema;

Mas não descartaria Miranda – em homenagem a Priestly, Hobbes e Bailey 
 (referência é tudo);

Que se fosse homem escolheria Timóteo;

Só que se fosse mãe batizaria de Heitor,

Que tem muitas alcunhas para poucos papéis;

E seis nomes insuficientes para tanto amor.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Feliz dia das crianças...

 


Quando eu era só uma menina já manjava que esse lance de constituir família era mais profundo do que fazer todo mundo caber na foto. Meu propósito de vida era ter dois filhos de corpo e um de alma o que dá igual a três de criação, porque todos nós fomos criados e/ou nos criamos. Parir foi um objetivo até meus 23 quando descobri que nem tudo é o que parece ser. Engravidar para certas mulheres é dadivoso, para outras nem tanto e para mim se tornaria uma jornada cujo percurso definitivamente não me apetece/como nunca apeteceu.  Com o passar dos anos virei a chave, cogitei um sub emprego, me tornar "escritora fantasma", casar (isso passou) e reaver o projeto inicial da maternagem, agora, todo focado em adoção. Ainda falo em adotar uma menina, já tem nome e sobrenome, mas o que a vida reserva eu não sei. A maternidade já não é o carro chefe da minha existência. Confesso que, hoje,  quando vejo bebês, às vezes, reativo essa vontade de ter um. Neném, contudo,  cresce, sai da infância passa pela adolescência e quando damos por si já é "gente grande" e a grandiosidade da vida adulta nada mais é do que uma reviravolta ou a realização de sonhos idealizados nesse eterno devir (acabei de escrever isso e pensei que este "vir a ser" é posto para todas as fases do desenvolvimento... enfim...). Eu, por exemplo, queria ter parido com no máximo 25, adotado beirando uns 30;  e ter rodado, antes disso tudo, o mundo em um mochilão radical até encontrar pouso em algum vilarejo no sul do Brasil, porque meu país mesmo todo cagado tem chances de ser limpo (assim eu torço, voto e reivindico).  Hoje, estou aqui: me encontrando no estudo das trocas recíprocas, significativas e essenciais; aprendendo e vivenciando o processo de acolhimento, cuidado e conscientização; além de escrever em um blog alternativo e praticar a gratidão como mote de vida para me tornar uma pessoa ainda mais humana, idônea e gentil. Quero ter filhos? Quero, não sei se terei, talvez a natureza divina compreenda que o status de mãe não combina com meu perfil e tudo certo. Quiçá vivi tudo que vivi até aqui para lidar com o fato que filho não é só um "complemento para minha falta" e sim uma responsabilidade que eu posso não estar preparada para assumir? Só o amanhã dirá... enquanto isso celebro o presente que me pertence e eu dou conta de viver agora. Depois eu acesso essa menina como a acessei ainda há pouco — no dia das crianças (na verdade foi ontem) e daqueles que cresceram em contato com sua infância como eu – feliz por não me frustrar em meio aos labirintos que me levaram a ser alguém melhor do que imaginei. Se sou autêntica é porque me aceitei assim, com esse ar pacato e agir estratégico para não convencer as pessoas a seguirem meu modelo e sim para conviver com elas como de fato são: espontâneas e naturais.

domingo, 10 de outubro de 2021

Sem moderação


 


O amor legitima meu afetos mais nebulosos e representativos me constituindo como alguém melhor. A foto triste de antes não se alinha a experiência feliz do dia de hoje. E é esse instante que importa. O agora materializa a presença viva que munida de experiências edificam no centro do meu coração uma força estrutural – cerne do meu mover dirigido pela boa vontade que me conduz a simplicidade da paz. Por paz, entendo a serenidade para assimilar as trocas recíprocas (ou não) sem perder o rumo. Aliás, é sem atalhos que caminho pelas veredas mais íngremes e incríveis, são nelas que reponho as energias gastas atrás do sossego. Sossego este que ancora a sanidade. Não como quem desliza de um polo ao outro, meu humor é sazonal e minha alma não , rogo – atrevo – no #diadasaúdemental, que permitam-se viver o autocuidado e cuidado de fora: deixem que o carinho derramado te acolha com jeito e zelo. Vê lá se você não é aquela pessoa que se percebe indigna de compaixão e por isso se enxerga como causa perdida, saiba: nenhuma causa está perdida se nela encontra-se o sopro da vida. Onde há fôlego há brechas para a saúde e o bem estar se estabelecerem sobre todo mal. Tire um tempo para apreciar-se... e cuide-se sem moderação. 

terça-feira, 28 de setembro de 2021

O sabor da vida (com erros crassos de pontuação)

 

Amo muito a troca, o leva e traz sadio, o encontro e a reciprocidade; amo a interação entre pessoas totalmente integradas; e essa chance que a gente ganha quando há cabimento em vivê-la da forma mais saborosa possível; e amo essa entrega – incluindo a receptividade, que eu venero. Aqui hoje, doou o que entendo sobre o sabor da vida: amarga, às vezes, algumas doce e outras insipida, como se o tempero dela dependesse da forma como nos preparamos a enfrentá-la. É lógico que a mão do cozinheiro influencia (por mão leia escolhas).

Somos formados e desenformados pelos ingredientes que compõe receitas admiradas, odiadas ou preparadas no automático. Somos pegos de surpresa? Demais. Tem horas, que é palpável a escassez de limões até para fazer a limonada do adágio; talvez a banda remanescente do último limão sirva para cozinhar um pouco a nossa parte crua – a que não foi frita, cozida e/ou assada. Dizem, até que “uma vez cozido jamais cru”, daí eu penso: mas e se o propósito da vida for nos moldar como bolinhos de petit gateau (na França: Mi-cuit au chocolate)? Imagina se fôssemos assados por fora e por dentro crus cruz?

Calma, não me prenderei ao bolinho. Reflito sobre os estados que nos constituem quando combinamos divergências (líquidas ou sólidas) sem buscarmos alvos idealizados por padrões ora aclamados / ora medíocres.  Algo gostoso costuma ser relativo, depende das preferências e algumas influências.  Não em vão interesses evaporam – eis aqui outra condição do espírito provocado pela temperatura alterada do recipiente (leia: a gente) – somos formas que formam, deformam e conformam palavras e ações. Por vezes, despejamos e acumulamos experiências abaladas por toda sorte de mal; somos ensinados a implodir nossas dores para não as explodir no próximo; somos cristalizados pela angústia da aceitação, quase sempre, inalcançável e postos em conservas sociais na sombra do bem comum (talvez seletivo) – como se a luz nos afetasse.

Uso aqui figuras de linguagem, aliadas de meus textos, para tratar assuntos delicados. Quero encerrar este, por exemplo, com as palavras mais solares possíveis sobre seus olhos atentos a cada frase paragrafada por mim: existe na ruindade dos dias a possibilidade de ressignificá-los, amorosamente, ao vivê-los na força do óbvio – o que faz do complexo algo simples de lidar e aprender. Reconheço: meu atrevimento é espaçado pela teimosia dos meus mistérios e é salvaguarda neles que te encorajo a desaba(fa)r com especialistas aptos a te escutar como, vez ou outra, faço e já fiz (mas isso é segredo). Viva a leveza que ressoa esse outro eu – cuidado em paz ao procurar ajuda – e progrida em amor. Aliás, é impossível burlar as vicissitudes da vida, mas, é viável prevenir o pior. 

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Aos prantos

 

Textos escritos com lágrimas choram palavras marejadas de amor. Este aqui é assim, fraseado pela tristeza, mas, sem parágrafos – dividi-los seria cruel. Mesmo, porque, o sorriso encantoado já se alastra rosto a fora; motivando esse desfecho risonho como a poeta que o compôs. E é aqui que a criatividade habita: na alegria aos prantos sem desmerecer sua dor.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Amargurados

Há leveza quando paramos de fazer questão de quem não nos corresponde – será? A gente torce por isto, eu sei. Permanecer em um lugar que não pertence é habitar fora do seu espaço. O amadurecer repele relações forçadas. Não existem atalhos para destinos suaves, o endereço da compreensão é largo. Hoje, as perguntas vibram com o silêncio das respostas; a mágoa e a decepção são lapidadas ao nos esquivarmos de contatos não mais queridos como antes. O problema é: sair pela tangente reforça o rancor ou de fato liberta? Enfrentar nunca foi tão dolorido como é agora. É preferível manter a "classe" com um desafeto do que admitir o término do relacionamento (baseado na afinidade) agora dissimulado. Nunca fomos tão diplomáticos e tão amargurados. Eu, às vezes, até prefiro o vácuo, nele desligo meu ideal para viver um mundo honesto comigo mesma – ancorada, mais do que nunca, ao fato de que a admiração acaba como a amizade sem confiança ou envergonhada. Por isto eu rogo: livrai-me Senhor de amar quem sente vergonha de mim – desses eu quero distância; perto eu quero quem me assuma (seja eu segura ou vulnerável), que me banque como sou e não como me fantasiaram.

domingo, 19 de setembro de 2021

Domingo

 Domingo. Um dia escaldado pelo sol. Um fim de semana caracterizando um final. Semana que vem já é primavera, hoje, ainda não. Só que eu sigo primaveril como quem floresce com o destempero de gente azeda; eu sigo abrindo pétalas com leveza apesar dos espinhos alheios. E quando eu penso nesse dia dominical, dia sabático fora do sábado cada vez mais carnal, só rimo – combino o som das palavras ao completar versos movidos por algumas metáforas e arranjo frases ajustadas em seus desajustes que, às vezes, arranjam inspiração.  

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Ajuda

Quando tudo parece não sair do lugar eu me movo internamente. Do lado de dentro procuro alternativas e não defesas. São muitos anos de terapia. E mesmo com todo esmero do mundo nem sempre consigo. Acredito que embora esteja na minha melhor fase emocional e espiritual, existem ajustes que preciso fazer em algumas veredas internas. Talvez a minha versão mais perfeita seja o inverso do que preciso, apesar de ser o meu maior desejo.  Em fim...


Admito que custei a lidar com a competência alheia de sair incólume de seus deslizes enquanto derrapo pelos meus. Inveja? Talvez. Todavia, não me alegro com a angústia dos outros em queda livre, fico é curiosa para saber como fazem para fortalecerem-se. Posso dizer que no meu solilóquio diário, aprendi que ser lacunar é o que me leva a conversar comigo. Se alguém me assiste falando sozinha não verá muito nexo nas ideias delineadas pelo conforto de minhas fantasias. Quem não as tem? Hoje, permito-me abraçar meus maiores devaneios com minha sabedoria miúda – e é aí que encontro sentido no alívio.


Aprendi, assim, que solitude não galga os degraus do sofrimento, mas, a solidão sim avança os patamares da dor – por isto para discernir entre uma e outra, às vezes, precisamos dos ouvidos de terceiros. Pausa para um salve aos psicólogos e psiquiatras. Quem sabe ao ser escutado não nos surpreendemos com o cuidado que pode levar-nos ao autocuidado? Eu tento manter o meu em exercício, inclusive: sendo cuidada. Que tal, você que lê isto, começar por aí: sendo cuidado com amorosidade e diálogo?! Pense nisso e me fala ou me escreva contando que pediu ajuda.

 

 



sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Classificados 🔞

Sempre me encantou o fato de amor e amizade começar com Am, além de me lembrar rádios maus sintonizadas lembra também o início de amarelo uma das minhas cores preferidas. Talvez por isso aderi o contato sem lentes corretoras para não desclassificar relações cheias de classe como essas. Eu, carente como sou – nada classuda, ouso dizer – resolvi fazer um classificado procurando candidatos para preencher a lacuna aberta pelo meu estilo de vida. 

Caso preencha os pré-requisitos, sou toda ouvidos. Porque não procuro perfeição ou persuasão; quero o antônimo disso, quero o diálogo com isso, só não quero mais disso. E sem querer o caos ou a balbúrdia, quero abrir as respostas que as perguntas fechadas induzem e acordar contigo o que acordei comigo: ser sempre de verdade mesmo ao evocar uma mentira quando o improviso for a melhor saída.  Quero um banquete de contradições avessas as tradições. Colher escolhas ao invés de encolhê-las, por que não? A realidade me encanta mais que a fantasia de ser livre sem consequências. Isto me deixa embevecida! Talvez aqui eu peça uma dose de segurança, gente insegura não se segura quando perdem as rédeas. 

Por fim, não poderia faltar paciência, eu nem de longe acho que ela é "a ciência da paz"  eu a vejo mais como a inconsciência dessa – ao menos, quando a minha paz circula ela o faz desapercebida, só vou notar após sentir (nem tomo essa ciência toda, pelo contrário, eu faço é perdê-la). Quero alguém assim e não espero nada além que candidatos ébrios de defeitos, se livrando dos seus preconceitos e bastante imperfeitos ao se candidatarem.  Pois sou: por vezes ruim, mas com a natureza boa para alimentar minha cadeia emocional sem extinguir a sua ou a doutros. Humanos são sempre bem vindos ao meu círculo de amores e amizades amareladas, depois a gente fica vermelho ou não – afinal de contas está tudo bem o empalidecer da alma, tem lá seu charme... risos...

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Das coisas lindas que aprendi até aqui...

Logo no início da graduação de psicologia entrei em alguns grupos de estudos com pensamentos divergentes, embora tivessem a mesma intenção: ensinar e aprender/aprender e ensinar – como uma constante troca. E foi em um desses grupos que conheci um autor que fala algo como “nós psicólogos queremos que os clientes nos procurem a fim de se envolver com o processo de transformação, quando na verdade eles nos procuram querendo alívio.” Eu que não entendia quase nada, tive um estalo. Isso não foi porque sorvi o papel de psicoterapeuta, longe de mim (naquelas circunstâncias eu era uma caloura) e, sim pela minha longa jornada como cliente. Era exatamente sobre isto: buscar alívio sem se “envolver” muito.

Talvez, a grande questão é que chega um momento em que a gente esquece desse efeito especial que uma boa leitura provoca no leitor e se acomoda de novo até, ao menos comigo, se deparar com outro “afronte” similar a esse – recentemente li, agora já no nono período, algo assim: “nós queremos ser tratados e não nos tratar”,  e foi aqui que tive o “insight” de seis períodos atrás – quando essa autora, até então desconhecida, elucidou muita coisa pra mim.

E como sói acontecer, puxei as lições acima para as minhas próprias experiências, fiquei pensando em Kierkegaard ou seria Sartre que chama a reflexão sobre “o que estou fazendo com o que fizeram da mim?” estudiosos dirão que a frase é outra – tomei nota disso (risos), todavia não é assim que ele nos provoca, já que é isso que importa? Fique, muitos anos, estagnada, até entender que quando a última escritora que citei lá em cima ao falar “nos tratar” se refere, na verdade, a fazermos nossa parte já que somos os principais interessados nisso. Não existe fórmula mágica no processo psicoterápico, milagres também não, o que existe é o encontro com o outro e consigo mais uma entrega firmada na coragem – para profissionais da área “psi” isto chega a ser um clichê, eu imagino.

Aos catorze anos fui a uma profissional que me atendeu por toda minha adolescência e parte da minha juventude, e ela falou algo na minha primeira sessão que ainda levo comigo, eu era muito tímida, quando a própria disse: “Márcia, eu preciso que você fale não para que eu te escute apenas, mas para que você se escute”. Tenho eu escutado minha voz? Vinte e poucos anos depois, percebo que sim de uma forma mais leve até – aprendi com o tempo e alguns clubes sociais regimentados por uma dúzia de sugestões: a ‘não me levar tão a sério’, isto é, não me cobrar demais. E essa ideia combina com a auto escuta convidada pelo ouvido do outro, estimulando a responsabilidade sem culpar. Aprendi assim: é possível ficar “aliviada” enquanto mudamos a forma como nos tratamos – não mais presos ao costume de ter quem faça isso pela gente – e sim com tolerância, cuidado, respeito e a compreensão de que nossa colaboração nesse movimento nos leva a evoluir bem.

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Paixão

É a atração entranhada na carne.

É a pele da alma na matéria pelada.

É a isca de um amor duradouro – será?

É a aposta que te levou ao fiasco – acertei?

Ela é quase sempre desenfreada – dizem.

Ela extravasa o poder ao perdê-lo.

Mas, não controla o descontrolado

Como descontrola o ajuizado.

Ela é ajustável, educada, (in)domada...

Costuma se estruturar sem colunas

E vazar todo amor acumulado.

Apesar de abrigar-se nos sentidos

Prefere investigá-los ao abri-los.

Apegada ou desapegada,

Ela faz dos sãos obcecados

E dos insanos saudáveis.

Enfim, todos acabam apaixonados

(só não sei se contentes ou magoados).

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Intercessão poética

Acredito em uma força que atravessa a terra e repousa sobre um trono ornado de justiça e de sabedoria no céu que habita em cada um de nós – somos templos se nos deixarmos ser.  É nela que me fortaleço, apego e me recolho na hora da dor. Anônimos do mundo inteiro a chamam de Poder Superior, Deus, Pai... Eu creio tanto nele que, às vezes, só me aproximo sem apelidá-lo até.

Meu coração se humilda na base total da confiança em seu agir — que resgata a memória de médicos e aprimora seus conhecimentos com insights maravilhosos para operar a cura e restauração em seus pacientes. Isto não tira o mérito de quem pratica a medicina, pelo contrário, isto agracia e enaltece essas pessoas. Minha oração é exatamente esta: que agentes de saúde tenham estalos de consciência elevadíssimos que os levem a técnicas cada vez mais avançadas para lidarem com enfermidades como o câncer, a aids, doenças auto imunes, o vírus da covid e por aí vai.

Que a prudência seja um escudo usado para combater a ignorância e o negacionismo através da prevenção – remediados cientificamente contra o mal-estar físico (e consequentemente mental), que estamos sujeitos, e ainda mais vulneráveis quando nos abstemos da responsabilidade de nos cuidarmos e ampliar esse cuidado para o bem estar social (aqui eu não falo do "wellfare state"). Isto envolve usar a capacidade de resolver conflitos que todos temos e chamamos de inteligência (seja ela emocional, espiritual, intelectual...), para convivermos em harmonia conosco e com quem nos cerca...

Lembrem-se: somos como um mosaico de vidas na natureza terrestre que hospeda nossos corpos alicerçados no mesmo chão que outros corpos diferentes dos nossos. Assim, sigamos em oração, mas, acima de tudo: sigamos em respeito – cientes de que, na atual conjuntura, precisamos nos vacinar pela gente, por quem amamos e pelos nossos desconhecidos igual. Aliás, na sua imunização fulgura sua humanização – por que, então, não se vacinar?

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Ponto final

Mas ela caçou, ela procurou, ela achou, ela mereceu – disse o homem, tomado de autocomiseração, que a agrediu. Um ser vociferando, manipulando, diminuindo e espancando quem não consegue se defender sozinho. Gente assim, que se despe de sua humanidade para aderir a selvageria física e emocional não tem escrúpulos. São pessoas escudadas pela intolerância; que se blindam com a cortesia pública, mas, atacam preferencialmente sem testemunhas. 


Há mulheres e mulheres  questionando a razão da fúria alheia que as machucam, como se fossem culpadas pelos ataques que sofrem; há homens e homens lançando sobre suas vítimas a responsabilidade de seus atos ao acusá-las de ter provocado os próprios a agirem assim. Alguns dizem: o sistema é falho, a culpa é da família, a pessoa não está certa das ideias e por aí vai. Contudo, mesmo que haja a busca por respostas para esse tipo de atitude e seja ofertada alguma ajuda a esses agentes de violência (porque tem, é importante frisar isto): como fica a mulher que apanha e é humilhada em todas as esferas; como sair de uma relação tenebrosa igual essa se ainda hoje muita gente finge que nada aconteceu e se cala omitindo apoio, privando elas de serem resgatadas de uma vida de dores e enganação só para se resguardarem ao não se envolverem?

Isso tudo sem falar que os algozes fazem qualquer coisa para descredibilizar as vítimas ao desestabilizá-las e expor seus “erros e defeitos". Pessoas assim são possessivas, acusam quem torturado é e buscam se eximir dos danos que provocou e provocam. Milhares e milhares de mulheres são silenciadas e destratadas por seus companheiros sem perspectiva nenhuma de serem livres rapidamente. Fico triste e penso que, por várias vezes, de forma "mais tímida" (inclusive por não aceitar) já vivi algo similar nas minhas antigas relações. De fato nunca fui agredida fisicamente por namorado algum, mas tive parceiros que me culpabilizaram por muita coisa deles que não era minha; vivi, e me ato a não compartilhar tudo, abusos psicológicos de toda natureza até pôr um ponto final nos mesmos e ainda sair de ruim na história, o que – pasmem – é típico.

Este texto, todavia, não se limita a minha vida carregada de experiências e aprendizados como a de inúmeras mulheres – eu costumo dizer em tom jocoso (e sincero) não custa puxar o "nada consta" – ele propõe a reflexão e o incentivo a liberdade feminina que clama apesar de emudecida (nesses e outros contextos) por novas oportunidades. Eis aqui, de igual forma, um chamamento para, atentos, nos colocarmos a postos em prol de nossas irmãs vítimas de violência doméstica; eis aqui um convite aberto para lustrarmos nossas colheres preparadas a se meterem em defesa de esposas (amantes, namoradas, companheiras, ficantes...) maltratadas e oprimidas por homens violentos. 

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Apesar de íntimos

 Não gosto desse jeito intrometido que induz a gente a acreditar que somos compatíveis sem sermos recíprocos. Quando a intimidade é compartilhada e mútua, ainda vai... como a ida que compõe a vida e faz desse cruzar de ciclos interessante... quando não, ela equivale a invasão confusa de uma liberdade excessiva, lúdica e exaustiva. Isto, que fique claro, sou eu apegada a minha memoria não declarativa que dá noticia pelas mil poesias – que escrevi – daquilo que aprendi e transfiro pelos bons frutos que colhi/colho. É preciso desmantelar as juras de amor para amar sem ilusões vigentes.  Nunca foi proibido sonhar com o improvável, mas não é recomendado esquecer do possível. Como o esqueleto da ciência o da nossa alma deveria estruturar isto que é da ordem do viável. Essa é a beleza dos afetos derramados sem mágoas: a possibilidade que eles têm de tirar, das más águas, quem se afunda no outro sem mergulhar em seus receios. Isto nos instiga a nadar na nossa intimidade para de forma amigável sermos livres sem entrarmos onde não há abrigo; isto nos compele a sermos cada vez menos invasivos apesar de íntimos.










quinta-feira, 1 de julho de 2021

Eu bem queria...

Eu bem queria que a terra fosse uma extensão do paraíso, como um deck do céu com open bar incluso a quem sobreviver as fragilidades do ego humano, todavia ela é só uma orla barrando ondas – com seus lixos e luxos sem separá-los.

Eu bem queria caminhar pelos trilhos da lucidez sem me embriagar com seus desatinos preparados no cálice da razão;  e quem sabe alcançar com um abraço o saguão da alma alada que vaga e divaga no marasmo das hipóteses que criou...

Eu bem queria... hoje não quero...  já me conformei com o (im)possível permitido por essa terra que soterra qualquer céu (sem estrelas que irradiam amor) e simplesmente vivo em paz.

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Gratidão

Diplomática e não falsa. Ponderada e não covarde. Serena e não sonsa. Perspicaz e não malandra... Ás vezes invejosa, ás vezes rancorosa, ás vezes melindrosa. Meio madura, meio imatura – quem não? Assim é a vida, a minha especialmente. Por isto, elenquei primeiro as qualidades (que tenho como outros têm); depois fiz um paralelo com defeitos (que posso assimilá-los ou reavê-los – o que fiz aqui) e encerrei com detalhes que vem e/ou vão... Pois, ao abrigar tantas emoções nessa arena de virtudes, eu que sempre fui ilha virei mar e encharquei a terra, sob meus pés, com a alma grata pelo seu solo mais seguro e fecundo: o amor sem fim.


 





domingo, 20 de junho de 2021

Como se adequar ao amor adequado? 🙃

Cada amor em nós se faz conforme nossa capacidade de suportá-lo. Toda maneira de amar mesmo sem manuais dão indícios do que é preciso para abrigá-la. Este tipo de amor, verídico, comporta todo desejo alinhado a realidade. Não existem margens utópicas quando o cerne é composto de fatos reais e possíveis. No centro de um amor histórico estão os repertórios de vida que o concebe, e nos desfechos de uma relação também.  Alguns de nós, sem nenhum ressentimento, sentem muito o pouco que consentem.  E quando nos conformamos com o amor que recebemos, sem nos deformar por assim permitir, amadurecemos nosso imo abrindo espaço para que outros amadureçam como a gente. Isto gera crescimento e aduba a liberdade; que dá lugar ao que é bom e ao que é importante; para ela fortalecer-se sem tornar-se inadequada.








quarta-feira, 9 de junho de 2021

Segue sua vida...

Ainda lembro quando seu time ganhou a libertadores e você me ligou... Lembra?

Você conseguia tudo com poucas palavras, até fazer eu acreditar que minha voz era mágica...

Hoje eu sei: ela é!

Você foi, o responsável por fazer eu querer experimentar a poesia da vida na prática...

Foi, pois, tive que por um ponto final quando fui notificada que desposou sua mulher.

E com a cisão do afeto evaporou meu lado abjeto para eu nunca mais ser objeto de ninguém.

Mudei: meu corpo mudou, meu cabelo mudou e minha visão de mundo também.

E se estouro aqui é pelo asco que senti quando me enviou uma mensagem esta manhã.

E se não traço seu perfil com detalhes é pela minha idoneidade como cidadã.

O que desejo agora é seguir o meu caminho sem atravessar o seu.

Aprendi que na ponte da vida há duas saídas: eu escolhi a mais sadia ao te esquecer.

terça-feira, 8 de junho de 2021

Sei que o correto é 'deixa-me', mas, 'deixa eu' te pedir algo:

Deixa eu tratar os afetos insuportáveis que despacho ou abraço;

Deixa eu tomar consciência sem os óbices da resistência;

Deixa eu sumir com a culpa ao me responsabilizar por ela;

Deixa eu resolver os conflitos presentes nos verbos pretéritos;

Deixa eu dizer que a rima não nasce sem o aval da sina;

Deixa eu espaçar minha vida pelo esquadro do momento;

Deixa eu remover das horas vagas a pressão do desempenho;

Deixa eu expressar nesta mensagem minha ode à liberdade.

segunda-feira, 7 de junho de 2021

A evolução da cara de paisagem

Esta não é mais uma crônica de efeito, embora só a sua leitura dirá se te serve ou não o que escrevi. Aqui revelo um modo promissor para algumas (não todas) pessoas, chamado "cara de samambaia" – expressão usada por uma amiga cujo sentido é similar a "cara de paisagem". A lógica deste texto, a propósito, vem do diálogo que a gente teve no qual me  identifiquei como adepta dessa cara. 


Sobre esta, a própria consiste na postura – inspirada em uma planta – que demanda um certo treino, uma observação acurada , um dom trabalhado e uma sabedoria maleável. Depois de aprendida, fato, é inevitável usá-la na hora que alguém saí de si e te ofende, por exemplo. Eu diria que um dos intuitos dessa ação é se tranquilizar, com maturidade, para elaborar a melhor forma de resolver o conflito sem piorá-lo e/ou causar danos ainda maiores.

Ela vem junto a escolha que fazemos quando decidimos se queremos ter paz ou razão. Se você escolhe a paz, saiba: este é o primeiro passo para vivê-la. Todavia, é importante lidar com quem nos aduba, nos rega, nos poda e principalmente quem nos extirpa nos isolando até da sombra. Usuárias dessa cara são constantemente questionadas sobre "como elas dão conta?", a questão é exatamente essa: elas já sacaram que não tem que "dar conta" de tudo, só com aquilo que está ao alcance delas e se ouvir pode ser o ponto chave da percepção, por que não tentar?

Aqui cabe dizer que a cara de samambaia só é efetiva quando a pessoa conhece ou busca conhecer seus processos internos, cônscia das suas limitações e dos vacilos naturais que são postos para todos – até para quem,  desautorizado, vai lá e puxa um pedaço que ainda não amadureceu. Porque possuímos fragmentos em formação, e prematuros, que estão enraizados a fim de crescerem no seu tempo e com sua identidade.

Samambaias são longevas –  crescem com as crianças e amadurecem com os jovens, avançando a fase adulta com seu folhecer e força; são uma amostra da natureza sobre a paciência que devemos ter com a gente e com os outros. Logo, o acesso ao amor mais humano de todos: o próprio – faz esse carinho ceder aos demais uma parte única sua: a gratidão.







sábado, 5 de junho de 2021

Receita para vida


 Não tenho paciência com quem não me conhece e acha que sabe muito a meu respeito – a maturidade lapidou essa impaciência para eu não explodir. Hoje, por mais que me alongue para ser tolerante; com quem leva, traz, paralisa, distorce e atrasa; ainda consulto a receita antiga sem ferventar as ideias. No passo a passo da afinidade, escrevi o segredo da afeição usando a solidão de tempero – assim não desperdicei nada do que vivi. Daí o gosto inconfundível da vida feito de sabedoria, respeito e perdão – tudo isto aquecido no mais grato amor, servido nas travessas da compaixão.

segunda-feira, 31 de maio de 2021

Para falar "adeus" sem culpa

A grande pedida da despedida é o fim. Pois, o bem cruzado com o mal afasta a calma do início.  A tensão só estabiliza quem vibra com ela, os imóveis se desequilibram e caem. A queda é dolorida e apavorante. Partir só agrada quem vai ou foi e olha lá.

Ninguém quer abrir a mão e fechar os olhos se não houver presentes. Não há dádiva que embale o choro para viagem, já que quem sente se ocupa das lágrimas. São as lições pelas pistas que amenizam os suspiros e quando a liberdade emerge não colocamos impedimento ou culpa (amém). O seu saudosismo não se iguala ao dos demais e isto é único.

...Toda saudade compila a presença do ausente – retratos vociferam histórias sem vozes...

Fazemos parte do passado de quem nos perpassou e se atravessamos caminhos desiguais é por não sermos tão iguais como esperávamos. Aliás, procuramos nas nossas vicissitudes a raiz da evolução geográfica e social, todavia, encontramos nelas a origem da emocional – seja para falar adeus sem ciúmes ou celebrar o ciclo amistoso de uma paz madura e fértil, o que é bom também.









domingo, 23 de maio de 2021

Resolvi paragrafar


 Eu li uma crônica hoje que falava sobre escrever e resolvi paragrafar sobre colorir. Porque um dia a aquarela da minha vida perdeu a cor e eu vi o arco-íris se dissipando. Não quero isto para ninguém. Uma pessoa desbotada se afoga nas profundezas da confusão.  



Quando encontrei essa bandana – simbólica para toda uma comunidade, apesar de não ser sobre isso que escrevo – lembrei de quando eu tinha aversão pelas cores; de como o vermelho ardia, o amarelo irritava, o azul incomodava, o roxo aguniava e mais cores me angustiavam. Isso, de certa forma, fugia do escopo até da ciência... 


Que bom que profissionais bem intencionados me ajudaram; e que bom que tonalizei minha vida outra vez. Sozinha seria inviável. Eu só compartilho um pouco do que vivi, anos atrás, para falar que a vida é um dégradé de momentos que se abrem e fecham com as chaves da esperança e desesperança, juntinhas no mesmo chaveiro; e que, às vezes, ao perdê-las as encontramos na boa fé do outro – em uma cópia reserva chamada confiança. 


 Por isso, se cuidem. Estamos em pandemia, mas ninguém precisa viver um pandemônio físico e emocional. Caso precise de ajuda , não se acanhe em procurar. Você é a pessoa mais importante da sua vida e vale todo cuidado com sua saúde. 

sábado, 8 de maio de 2021

Você

...Que cantarola o amor sem cifrá-lo,

(com afeto a granel moído em paz).

Que nos alimenta ao poetizar seu doar;

Que pesponta as fissuras passionais;

Que é solar do amanhecer ao anoitecer

(e chuvosa ao se debulhar em louvor);

Que transforma problemas em poemas,

Que um dia era só filha, outro já era mãe,

Que faz com sua sina as melhores rimas,

Que é bálsamo, cura, estrada e lições...

A você

... Todo meu carinho neste textinho,

Cheio de afeto, razão e pura gratidão!

Mãe,

Quando você era só poesia... o olho de Deus brilhou quando te leu;

E quando foi música... Ele se encantou quando te ouviu;

Quando virou dança... Deus se empolgou, então, dançou e se divertiu;

E quando Ele a criou, foi generoso e te compartilhou...

Você que é bondosa de nascença e bonita também: é memória da música, poesia e dança que inspirou Deus.

Mesmo sendo arte escolheu ser labor e trabalhou como sempre, como nunca...

Foi e é ge(re)nte da gente. Espalhou com sua organização sua coerência (um arranjo divino em meio ao caos e desarranjo humano com sua paz).

Esta declaração é para agradecer a Deus pela melhor poesia dele: você, mãe – um esboço fiel versado no céu.

domingo, 25 de abril de 2021

Sem fofocas, ok? 


É oferecido com o segredo a confiança
(o que a freia é o que compõe o sigilo até prová-lo de fato).
Uma confissão pede um ouvido carinhoso para uma fala  tensa.
A pessoa presa no medo vê na brecha da intimidade um alívio; já a corajosa não vê empecilhos nisto – elas arriscam (não que isto seja sempre bom).
Pois, um pouco de neura revela um grau de saúde quando parcimoniosa.
A lealdade pega carona nesta conduta amorosa de dar sua melhor escuta a pior versão de alguém – sem julgar (penso eu)...
Sem estremecer a comunicação...
...Sem FOFOCAS (ok?) ...

E isto pede perguntas, não para remoer o passado ao evocá-lo com nossas questões e sim para achegar-se ao presente com afeto e paz;
Isto pede uma devolutiva ao se certificar que compreendeu bem e uma réplica se assim aprouver.
Não nos cabe propagar um segredo ao culpar quem amarrou-se nele; nos cabe escutar/ajudar e salvo algumas exceções, procurar ajuda por quem não consegue sozinho;
Cabe a nós não espalharmos boatos que nos priva de retribuir com nossas atitudes a revelação de alguém e compete a nós, também, sermos um canal de vida e não de sofrimento atrelado ao desamparo.

 

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Bem melhor sem você

 Eu que escorreguei em seu riso

(na esquina da boca entre lábios) ;

Que consumia seus pensamentos,

Sediei seus surtos nos meus... 



Eu que era bem cara a sua alma,

Cobiçava o véu sobre ela;

Que confundia lições com lesões,

Gabei a atenção que ganhei... 



Eu que inflava ao ouvir "te amo";

Sentia o ódio sob o desdém;

Quando o vi distorcer minha fala,

Almejei não ser como és...


Eu que sossegada só escutava,

Admirava seu poder e saber;

Logo, percebi-me aliviada,

Bem melhor sem você.

 

 




sexta-feira, 16 de abril de 2021

Como os demais

Não promovo uma cultura insustentável (eu acho), 

tão pouco absoluta (tento); 

Não conto a soberba seu estopim (pondero);

Não entrego-me a tramoias e transtornos (enfrento);

Não há refil para coragem sem verdade (constato);

Não escalo o pavor ao invés do amor (percebo);

Não edito o caráter análogo a vida (conservo);

Não abafo a estupidez sem tratá-la (encaro);

Eu beiro a astúcia é no silvo da pausa (concluo)

E a reforço no remanso dos sábios (escrevo).

sábado, 10 de abril de 2021

Em memória

Hoje, nada destrona tamanha tristeza – até o amor desmanchou-se ao vê-la...

Nenhuma lágrima ficou engasgada...

Toda dor acumulada se fez presente e até a alegria rendeu-se a ela...

Nenhum clamor foi silenciado...

O susto deu seu grito, o choro ganhou voz – sofrer foi permitido.

Nenhum arranjo foi feito ou desfeito...

Todos mui abalados perderam a estrutura – não é preciso estar tudo bem se está mal...

Deixa a melancolia que te consome correr os dias embaçados pelas feridas;

Deixa o tempo amadurecer esta infinita saudade cuidando das nossas crises;

Deixa a sua voz encalacrada chorar o horror da perda injusta e precoce;

Hoje, nada macula a angústia – até a liberdade escolheu o luto e depois a luta.



Força

Existe uma força dentro de mim que espelha a bravura e o medo que me fortalece;

Uma força sensível às respostas da vida que me leva a abster de toda angústia sem abonar a tristeza;
Uma força que me protege das alfinetadas que recebo e dou na surdina; Uma força que repele quem não se/me  interessa; 
Uma força que defende os finais neutros mais que os felizes...
E é esta força que tampona a ausência de sentidos agora;
É esta força que me desabriga do relento da (co)dependência;
Uma força indomável e coerente com a fraqueza que me faz abastada e carente!
Força esta que se expande e se encolhe na presença de outra força semelhante;
Força disforme, flexível e sem nome ou sobrenome!

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Nos meus termos

Tenho usado com frequência minha poupança de amor-próprio. Os juros do desamor estão tão altos que requerem de mim um investimento que só eu posso fazer.  Quando ouço sobre o vazio existencial, que acomete os poetas, eu me pergunto: onde estará o meu? 

Sou afortunada de certezas sobre os sucessos e principalmente fracassos vindouros; uso de máxima franqueza com minhas fantasias ao apostar no desfecho mais sóbrio possível para mim – o conforto do anonimato. Lócus que ocupo amparada pela diversidade que me cerca.

Estou no cerne da solitude margeada pela solidão e nada disto é gatilho para a tristeza, pelo contrário, tudo isto dispara meu bom humor. O que cientificamente é questionável já que há inúmeras hipóteses comprovadas sobre a importância das interações sociais.

Mas, hoje falo de um lugar sereno sem averiguar se me encaixo nesse pragmatismo todo; hoje, abrigo minha vida no encontro das palavras afetadas pela essência de quem se troca comigo enquanto me troco com a pessoa.  E tudo isto aquecido nos conflitos que nos formam enquanto parceiros no “crime’ e no amor (uma contravenção afetiva para introspectivos como eu; um jeito meu de pertencer a este mundo que, ainda bem, é muito seu).