domingo, 10 de abril de 2022

Anoitecida

Eu, às vezes, anoiteço quando o sol raia. De vez em quando, amanheço solar, mas, constantemente desperto e não acordo aquilo que dormita ao longo do dia. Levantar? Levanto! Sou craque em soerguer sonhos. Minha vaidade onírica não pede realização, pede ponderação. Sofro o impacto das emoções que sirvo, não costumo assimilá-las sem peneirá-las. Dos crivos que me filtram sou o mais ligeiro e se me julgo forte é pelo silvo da fraqueza ligado desde sempre. Como sei que o assobio do fracasso apita a derrota, desconheço outro alarme do sucesso que não a vitória – a conquista de si próprio; do seu território interno. Sou, assim, o cochilo bordado às margens do sol; a tarde estrelada em meio a um lual; o solo refém do tempo e seus contratempos!








sábado, 2 de abril de 2022

O que mudou?

Hoje olhei para esta foto e pensei: de lá para cá o que mudou? O cabelo? O peso? As tatuagens? Um estilo mais contido, quem sabe? O que levo de onze anos atrás? E qual a marca eu deixei ali. É inevitável olhar para fotos antigas e não me emocionar. Não, senhorxs,  ainda não comprei minha casa própria, não me consagrei poetisa, não tive os filhos adotivos que planejei, não encontrei o ativista poliglota que curte stones e venera caretas de café sem doce em esquinas nada à ver.... Sou a mesma adepta da "escritoterapia" – escrever é lacrimejar palavras para não perder o pouco ar dos meus pulmões. Como minha caneta fala e tem longo alcance... Não é a toa que economizo voz para doá-la a um texto costurado em minha timidez. É como se eu removesse do embotamento a pobreza que nele há para bordá-la com tintas valiosas aos olhos de quem lê a alegria que sinto ao escrever. Aprendi a me humildar, a soberba tornou-se um estorvo. Arrogar algo demanda um domínio e um controle cheio de autonomia que eu nem de longe alcancei e tudo bem. Encontro colo aqui: onde abrigo minhas frases gordas de amor sem restrições. Talvez seja isto que ficou: a comoção, o prazer e a vulnerabilidade ao vivo em meus (con)textos. 





sexta-feira, 1 de abril de 2022

Sou

Sou povoada por solidões e solitude;

Aqui dentro comporta as escolhas que fiz e suas consequências.

Sou lacrimal, sorridente, (im)potente...

A estampa do meu rosto, às vezes, desbota meu sentimento.

Sou abrigo da calma sob a pele trêmula.

Eu só balizo o ódio quando o cambaleio.

E se atribuo ao amor outros predicativos é para não disperdiçá-lo com sacrifícios.