Amo
muito a troca, o leva e traz sadio, o encontro e a reciprocidade; amo a
interação entre pessoas totalmente integradas; e essa chance que a gente ganha
quando há cabimento em vivê-la da forma mais saborosa possível; e amo essa
entrega – incluindo a receptividade, que eu venero. Aqui hoje, doou o que
entendo sobre o sabor da vida: amarga, às vezes, algumas doce e outras insipida,
como se o tempero dela dependesse da forma como nos preparamos a enfrentá-la. É
lógico que a mão do cozinheiro influencia (por mão leia escolhas).
Somos
formados e desenformados pelos ingredientes que compõe receitas admiradas, odiadas
ou preparadas no automático. Somos pegos de surpresa? Demais. Tem horas, que é palpável
a escassez de limões até para fazer a limonada do adágio; talvez a banda remanescente
do último limão sirva para cozinhar um pouco a nossa parte crua – a que não foi
frita, cozida e/ou assada. Dizem, até que “uma vez cozido jamais cru”, daí eu
penso: mas e se o propósito da vida for nos moldar como bolinhos de petit
gateau (na França: Mi-cuit
au chocolate)? Imagina
se fôssemos assados por fora e por dentro crus ≠ cruz?
Calma,
não me prenderei ao bolinho. Reflito sobre os estados que nos constituem quando
combinamos divergências (líquidas ou sólidas) sem buscarmos alvos idealizados
por padrões ora aclamados / ora medíocres. Algo gostoso costuma ser relativo, depende das
preferências e algumas influências. Não em
vão interesses evaporam – eis aqui outra condição do espírito provocado pela
temperatura alterada do recipiente (leia: a gente) – somos formas que formam, deformam
e conformam palavras e ações. Por vezes, despejamos e acumulamos experiências
abaladas por toda sorte de mal; somos ensinados a implodir nossas dores para
não as explodir no próximo; somos cristalizados pela angústia da aceitação, quase
sempre, inalcançável e postos em conservas sociais na sombra do bem comum (talvez
seletivo) – como se a luz nos afetasse.
Uso
aqui figuras de linguagem, aliadas de meus textos, para tratar assuntos
delicados. Quero encerrar este, por exemplo, com as palavras mais solares
possíveis sobre seus olhos atentos a cada frase paragrafada por mim: existe na
ruindade dos dias a possibilidade de ressignificá-los, amorosamente, ao vivê-los
na força do óbvio – o que faz do complexo algo simples de lidar e aprender. Reconheço:
meu atrevimento é espaçado pela teimosia dos meus mistérios e é salvaguarda neles
que te encorajo a desaba(fa)r com especialistas aptos a te escutar como, vez ou
outra, faço e já fiz (mas isso é segredo). Viva a leveza que ressoa esse outro
eu – cuidado em paz ao procurar ajuda – e progrida em amor.