terça-feira, 28 de setembro de 2021

O sabor da vida (com erros crassos de pontuação)

 

Amo muito a troca, o leva e traz sadio, o encontro e a reciprocidade; amo a interação entre pessoas totalmente integradas; e essa chance que a gente ganha quando há cabimento em vivê-la da forma mais saborosa possível; e amo essa entrega – incluindo a receptividade, que eu venero. Aqui hoje, doou o que entendo sobre o sabor da vida: amarga, às vezes, algumas doce e outras insipida, como se o tempero dela dependesse da forma como nos preparamos a enfrentá-la. É lógico que a mão do cozinheiro influencia (por mão leia escolhas).

Somos formados e desenformados pelos ingredientes que compõe receitas admiradas, odiadas ou preparadas no automático. Somos pegos de surpresa? Demais. Tem horas, que é palpável a escassez de limões até para fazer a limonada do adágio; talvez a banda remanescente do último limão sirva para cozinhar um pouco a nossa parte crua – a que não foi frita, cozida e/ou assada. Dizem, até que “uma vez cozido jamais cru”, daí eu penso: mas e se o propósito da vida for nos moldar como bolinhos de petit gateau (na França: Mi-cuit au chocolate)? Imagina se fôssemos assados por fora e por dentro crus cruz?

Calma, não me prenderei ao bolinho. Reflito sobre os estados que nos constituem quando combinamos divergências (líquidas ou sólidas) sem buscarmos alvos idealizados por padrões ora aclamados / ora medíocres.  Algo gostoso costuma ser relativo, depende das preferências e algumas influências.  Não em vão interesses evaporam – eis aqui outra condição do espírito provocado pela temperatura alterada do recipiente (leia: a gente) – somos formas que formam, deformam e conformam palavras e ações. Por vezes, despejamos e acumulamos experiências abaladas por toda sorte de mal; somos ensinados a implodir nossas dores para não as explodir no próximo; somos cristalizados pela angústia da aceitação, quase sempre, inalcançável e postos em conservas sociais na sombra do bem comum (talvez seletivo) – como se a luz nos afetasse.

Uso aqui figuras de linguagem, aliadas de meus textos, para tratar assuntos delicados. Quero encerrar este, por exemplo, com as palavras mais solares possíveis sobre seus olhos atentos a cada frase paragrafada por mim: existe na ruindade dos dias a possibilidade de ressignificá-los, amorosamente, ao vivê-los na força do óbvio – o que faz do complexo algo simples de lidar e aprender. Reconheço: meu atrevimento é espaçado pela teimosia dos meus mistérios e é salvaguarda neles que te encorajo a desaba(fa)r com especialistas aptos a te escutar como, vez ou outra, faço e já fiz (mas isso é segredo). Viva a leveza que ressoa esse outro eu – cuidado em paz ao procurar ajuda – e progrida em amor. Aliás, é impossível burlar as vicissitudes da vida, mas, é viável prevenir o pior. 

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Aos prantos

 

Textos escritos com lágrimas choram palavras marejadas de amor. Este aqui é assim, fraseado pela tristeza, mas, sem parágrafos – dividi-los seria cruel. Mesmo, porque, o sorriso encantoado já se alastra rosto a fora; motivando esse desfecho risonho como a poeta que o compôs. E é aqui que a criatividade habita: na alegria aos prantos sem desmerecer sua dor.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Amargurados

Há leveza quando paramos de fazer questão de quem não nos corresponde – será? A gente torce por isto, eu sei. Permanecer em um lugar que não pertence é habitar fora do seu espaço. O amadurecer repele relações forçadas. Não existem atalhos para destinos suaves, o endereço da compreensão é largo. Hoje, as perguntas vibram com o silêncio das respostas; a mágoa e a decepção são lapidadas ao nos esquivarmos de contatos não mais queridos como antes. O problema é: sair pela tangente reforça o rancor ou de fato liberta? Enfrentar nunca foi tão dolorido como é agora. É preferível manter a "classe" com um desafeto do que admitir o término do relacionamento (baseado na afinidade) agora dissimulado. Nunca fomos tão diplomáticos e tão amargurados. Eu, às vezes, até prefiro o vácuo, nele desligo meu ideal para viver um mundo honesto comigo mesma – ancorada, mais do que nunca, ao fato de que a admiração acaba como a amizade sem confiança ou envergonhada. Por isto eu rogo: livrai-me Senhor de amar quem sente vergonha de mim – desses eu quero distância; perto eu quero quem me assuma (seja eu segura ou vulnerável), que me banque como sou e não como me fantasiaram.

domingo, 19 de setembro de 2021

Domingo

 Domingo. Um dia escaldado pelo sol. Um fim de semana caracterizando um final. Semana que vem já é primavera, hoje, ainda não. Só que eu sigo primaveril como quem floresce com o destempero de gente azeda; eu sigo abrindo pétalas com leveza apesar dos espinhos alheios. E quando eu penso nesse dia dominical, dia sabático fora do sábado cada vez mais carnal, só rimo – combino o som das palavras ao completar versos movidos por algumas metáforas e arranjo frases ajustadas em seus desajustes que, às vezes, arranjam inspiração.  

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Ajuda

Quando tudo parece não sair do lugar eu me movo internamente. Do lado de dentro procuro alternativas e não defesas. São muitos anos de terapia. E mesmo com todo esmero do mundo nem sempre consigo. Acredito que embora esteja na minha melhor fase emocional e espiritual, existem ajustes que preciso fazer em algumas veredas internas. Talvez a minha versão mais perfeita seja o inverso do que preciso, apesar de ser o meu maior desejo.  Em fim...


Admito que custei a lidar com a competência alheia de sair incólume de seus deslizes enquanto derrapo pelos meus. Inveja? Talvez. Todavia, não me alegro com a angústia dos outros em queda livre, fico é curiosa para saber como fazem para fortalecerem-se. Posso dizer que no meu solilóquio diário, aprendi que ser lacunar é o que me leva a conversar comigo. Se alguém me assiste falando sozinha não verá muito nexo nas ideias delineadas pelo conforto de minhas fantasias. Quem não as tem? Hoje, permito-me abraçar meus maiores devaneios com minha sabedoria miúda – e é aí que encontro sentido no alívio.


Aprendi, assim, que solitude não galga os degraus do sofrimento, mas, a solidão sim avança os patamares da dor – por isto para discernir entre uma e outra, às vezes, precisamos dos ouvidos de terceiros. Pausa para um salve aos psicólogos e psiquiatras. Quem sabe ao ser escutado não nos surpreendemos com o cuidado que pode levar-nos ao autocuidado? Eu tento manter o meu em exercício, inclusive: sendo cuidada. Que tal, você que lê isto, começar por aí: sendo cuidado com amorosidade e diálogo?! Pense nisso e me fala ou me escreva contando que pediu ajuda.

 

 



sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Classificados 🔞

Sempre me encantou o fato de amor e amizade começar com Am, além de me lembrar rádios maus sintonizadas lembra também o início de amarelo uma das minhas cores preferidas. Talvez por isso aderi o contato sem lentes corretoras para não desclassificar relações cheias de classe como essas. Eu, carente como sou – nada classuda, ouso dizer – resolvi fazer um classificado procurando candidatos para preencher a lacuna aberta pelo meu estilo de vida. 

Caso preencha os pré-requisitos, sou toda ouvidos. Porque não procuro perfeição ou persuasão; quero o antônimo disso, quero o diálogo com isso, só não quero mais disso. E sem querer o caos ou a balbúrdia, quero abrir as respostas que as perguntas fechadas induzem e acordar contigo o que acordei comigo: ser sempre de verdade mesmo ao evocar uma mentira quando o improviso for a melhor saída.  Quero um banquete de contradições avessas as tradições. Colher escolhas ao invés de encolhê-las, por que não? A realidade me encanta mais que a fantasia de ser livre sem consequências. Isto me deixa embevecida! Talvez aqui eu peça uma dose de segurança, gente insegura não se segura quando perdem as rédeas. 

Por fim, não poderia faltar paciência, eu nem de longe acho que ela é "a ciência da paz"  eu a vejo mais como a inconsciência dessa – ao menos, quando a minha paz circula ela o faz desapercebida, só vou notar após sentir (nem tomo essa ciência toda, pelo contrário, eu faço é perdê-la). Quero alguém assim e não espero nada além que candidatos ébrios de defeitos, se livrando dos seus preconceitos e bastante imperfeitos ao se candidatarem.  Pois sou: por vezes ruim, mas com a natureza boa para alimentar minha cadeia emocional sem extinguir a sua ou a doutros. Humanos são sempre bem vindos ao meu círculo de amores e amizades amareladas, depois a gente fica vermelho ou não – afinal de contas está tudo bem o empalidecer da alma, tem lá seu charme... risos...

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Das coisas lindas que aprendi até aqui...

Logo no início da graduação de psicologia entrei em alguns grupos de estudos com pensamentos divergentes, embora tivessem a mesma intenção: ensinar e aprender/aprender e ensinar – como uma constante troca. E foi em um desses grupos que conheci um autor que fala algo como “nós psicólogos queremos que os clientes nos procurem a fim de se envolver com o processo de transformação, quando na verdade eles nos procuram querendo alívio.” Eu que não entendia quase nada, tive um estalo. Isso não foi porque sorvi o papel de psicoterapeuta, longe de mim (naquelas circunstâncias eu era uma caloura) e, sim pela minha longa jornada como cliente. Era exatamente sobre isto: buscar alívio sem se “envolver” muito.

Talvez, a grande questão é que chega um momento em que a gente esquece desse efeito especial que uma boa leitura provoca no leitor e se acomoda de novo até, ao menos comigo, se deparar com outro “afronte” similar a esse – recentemente li, agora já no nono período, algo assim: “nós queremos ser tratados e não nos tratar”,  e foi aqui que tive o “insight” de seis períodos atrás – quando essa autora, até então desconhecida, elucidou muita coisa pra mim.

E como sói acontecer, puxei as lições acima para as minhas próprias experiências, fiquei pensando em Kierkegaard ou seria Sartre que chama a reflexão sobre “o que estou fazendo com o que fizeram da mim?” estudiosos dirão que a frase é outra – tomei nota disso (risos), todavia não é assim que ele nos provoca, já que é isso que importa? Fique, muitos anos, estagnada, até entender que quando a última escritora que citei lá em cima ao falar “nos tratar” se refere, na verdade, a fazermos nossa parte já que somos os principais interessados nisso. Não existe fórmula mágica no processo psicoterápico, milagres também não, o que existe é o encontro com o outro e consigo mais uma entrega firmada na coragem – para profissionais da área “psi” isto chega a ser um clichê, eu imagino.

Aos catorze anos fui a uma profissional que me atendeu por toda minha adolescência e parte da minha juventude, e ela falou algo na minha primeira sessão que ainda levo comigo, eu era muito tímida, quando a própria disse: “Márcia, eu preciso que você fale não para que eu te escute apenas, mas para que você se escute”. Tenho eu escutado minha voz? Vinte e poucos anos depois, percebo que sim de uma forma mais leve até – aprendi com o tempo e alguns clubes sociais regimentados por uma dúzia de sugestões: a ‘não me levar tão a sério’, isto é, não me cobrar demais. E essa ideia combina com a auto escuta convidada pelo ouvido do outro, estimulando a responsabilidade sem culpar. Aprendi assim: é possível ficar “aliviada” enquanto mudamos a forma como nos tratamos – não mais presos ao costume de ter quem faça isso pela gente – e sim com tolerância, cuidado, respeito e a compreensão de que nossa colaboração nesse movimento nos leva a evoluir bem.

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Paixão

É a atração entranhada na carne.

É a pele da alma na matéria pelada.

É a isca de um amor duradouro – será?

É a aposta que te levou ao fiasco – acertei?

Ela é quase sempre desenfreada – dizem.

Ela extravasa o poder ao perdê-lo.

Mas, não controla o descontrolado

Como descontrola o ajuizado.

Ela é ajustável, educada, (in)domada...

Costuma se estruturar sem colunas

E vazar todo amor acumulado.

Apesar de abrigar-se nos sentidos

Prefere investigá-los ao abri-los.

Apegada ou desapegada,

Ela faz dos sãos obcecados

E dos insanos saudáveis.

Enfim, todos acabam apaixonados

(só não sei se contentes ou magoados).