segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Urna

Quanto mais perto chego dos quarenta anos mais eu aperto os trinta e sete – uma das minhas melhores idades. Às vezes, o tempo se fecha no vão do imprevisto e a surpresa abre espaço para o susto. Esses dias mesmo, até dormindo acordada não despertei o sonho dos meus sentimentos — não queria precipitá-los com pressa. Isolada fui povoada de reflexões: como não me sentir privilegiada pela assistência médica, familiar e fraterna que tenho? Dez dias entre quatro paredes não me privaram de atravessá-las com a fé situada no cerne da minha vulnerabilidade. A esperança que consumo eu distribuo quando assino essa ideia que publico. Serei urna de amor com votos de ódio? Não sei. Só circulo com a ternura sem distorcê-la. Isto conduziu-me a falácia que há por traz do ditado "a ignorância é uma benção" – nunca foi – a consciência, na verdade, aplicada na prática da cidadania é o que 'abençoa' tudo e todos. Porém, quem sou eu? Apenas uma vida que vocifera por outras vidas sem espaço para soltar a voz enquanto a dor as domina e machuca.










 

 

 

 

 





quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Quase uma semana

Seis dias dentro de um quarto... Tenho tratamento vip através da mamãe. Mas é inviável não estar entediada, brava com a situação e meditativa. Quase uma semana pensando que tomei três doses, não tiro a máscara para nada, a maioria das vezes que me encontro com pessoas é em área aberta e cumpro o distanciamento. Então, é inevitável pensar que se todo mundo fizesse sua parte, se vacinasse e tudo mais, talvez eu não estivesse isolada. Todo amanhecer carrega a esperança de resgatar o bem estar interrompido. Todavia o combo dor de cabeça e laringite permanecem invictos, apesar de que miraculosamente os pulmões seguem sem infecções e além disso não tive febre – certamente por causa das vacinas. Já assisti coisas super aleatórias na internet e ouvi mais do mesmo em rádios onlines. Dos livros que trouxe para minha clausura o de psicopatologia foi o que me atraiu, só confesso que ler tem sido mais difícil (falta de clima, suponho). Perdi o aniversário do meu pai, reorganizei o meu – porém dado momento vivido (depois de outro teste) repenso inclusive se vou celebrá-lo, eu não sei, de verdade. Cancelei todos os meus compromissos agendados para breve. Porque diariamente eu penso "não posso transmitir essa bagaça para ninguém" ‐ é muito desconfortável essa situação por mais que eu esteja bem acomodada fisicamente falando. E não espero que ninguém me entenda ou viva algo similar para compreender, ao contrário. Espero que as pessoas tomem consciência sobre a importância da imunização sem sofrerem, pois se estou praticamente assintomática hoje é em função das vacinas que tomei. Acredite: como asmática eu não sei como estaria sem a vacinação. Por favor, vacinem-se! Sentiu qualquer mal estar: isolem-se, façam o teste e cuidem-se de acordo com os protocolos de biossegurança. Quer esbanjar saúde sem grandes mazelas? Pense em você agrupado ao todo que te cerca e constitui como ator social lutando em prol de muitos com tudo que tem: a sua vida!

sábado, 1 de janeiro de 2022

Querido ano,

Talvez o tempo acelere seus dias, as semanas saltem sem percebermos e os meses sejam maratonados como séries em tardes de domingo;
Talvez eu o conduza sem parâmetros, minha lista não se alinhe a sua e o meu calendário seja marcado conforme minha vontade acima do melhor pra mim;
Talvez o cerne da sua existência, controlado pela nossa essência, reluza o viço da esperança incubada na sua chegada tão querida;
E apesar de nenhuma articulação escapulir do controle humano, caberá a natureza reger o espetáculo da vida para o querer da gente não te diminuir.
Que não descartemos a chance de vivê-lo sem os velhos erros que cometemos no outro ano, que lá atrás ficou, para abrirmos nosso presente que é você: 2022.