sexta-feira, 30 de julho de 2021

Intercessão poética

Acredito em uma força que atravessa a terra e repousa sobre um trono ornado de justiça e de sabedoria no céu que habita em cada um de nós – somos templos se nos deixarmos ser.  É nela que me fortaleço, apego e me recolho na hora da dor. Anônimos do mundo inteiro a chamam de Poder Superior, Deus, Pai... Eu creio tanto nele que, às vezes, só me aproximo sem apelidá-lo até.

Meu coração se humilda na base total da confiança em seu agir — que resgata a memória de médicos e aprimora seus conhecimentos com insights maravilhosos para operar a cura e restauração em seus pacientes. Isto não tira o mérito de quem pratica a medicina, pelo contrário, isto agracia e enaltece essas pessoas. Minha oração é exatamente esta: que agentes de saúde tenham estalos de consciência elevadíssimos que os levem a técnicas cada vez mais avançadas para lidarem com enfermidades como o câncer, a aids, doenças auto imunes, o vírus da covid e por aí vai.

Que a prudência seja um escudo usado para combater a ignorância e o negacionismo através da prevenção – remediados cientificamente contra o mal-estar físico (e consequentemente mental), que estamos sujeitos, e ainda mais vulneráveis quando nos abstemos da responsabilidade de nos cuidarmos e ampliar esse cuidado para o bem estar social (aqui eu não falo do "wellfare state"). Isto envolve usar a capacidade de resolver conflitos que todos temos e chamamos de inteligência (seja ela emocional, espiritual, intelectual...), para convivermos em harmonia conosco e com quem nos cerca...

Lembrem-se: somos como um mosaico de vidas na natureza terrestre que hospeda nossos corpos alicerçados no mesmo chão que outros corpos diferentes dos nossos. Assim, sigamos em oração, mas, acima de tudo: sigamos em respeito – cientes de que, na atual conjuntura, precisamos nos vacinar pela gente, por quem amamos e pelos nossos desconhecidos igual. Aliás, na sua imunização fulgura sua humanização – por que, então, não se vacinar?

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Ponto final

Mas ela caçou, ela procurou, ela achou, ela mereceu – disse o homem, tomado de autocomiseração, que a agrediu. Um ser vociferando, manipulando, diminuindo e espancando quem não consegue se defender sozinho. Gente assim, que se despe de sua humanidade para aderir a selvageria física e emocional não tem escrúpulos. São pessoas escudadas pela intolerância; que se blindam com a cortesia pública, mas, atacam preferencialmente sem testemunhas. 


Há mulheres e mulheres  questionando a razão da fúria alheia que as machucam, como se fossem culpadas pelos ataques que sofrem; há homens e homens lançando sobre suas vítimas a responsabilidade de seus atos ao acusá-las de ter provocado os próprios a agirem assim. Alguns dizem: o sistema é falho, a culpa é da família, a pessoa não está certa das ideias e por aí vai. Contudo, mesmo que haja a busca por respostas para esse tipo de atitude e seja ofertada alguma ajuda a esses agentes de violência (porque tem, é importante frisar isto): como fica a mulher que apanha e é humilhada em todas as esferas; como sair de uma relação tenebrosa igual essa se ainda hoje muita gente finge que nada aconteceu e se cala omitindo apoio, privando elas de serem resgatadas de uma vida de dores e enganação só para se resguardarem ao não se envolverem?

Isso tudo sem falar que os algozes fazem qualquer coisa para descredibilizar as vítimas ao desestabilizá-las e expor seus “erros e defeitos". Pessoas assim são possessivas, acusam quem torturado é e buscam se eximir dos danos que provocou e provocam. Milhares e milhares de mulheres são silenciadas e destratadas por seus companheiros sem perspectiva nenhuma de serem livres rapidamente. Fico triste e penso que, por várias vezes, de forma "mais tímida" (inclusive por não aceitar) já vivi algo similar nas minhas antigas relações. De fato nunca fui agredida fisicamente por namorado algum, mas tive parceiros que me culpabilizaram por muita coisa deles que não era minha; vivi, e me ato a não compartilhar tudo, abusos psicológicos de toda natureza até pôr um ponto final nos mesmos e ainda sair de ruim na história, o que – pasmem – é típico.

Este texto, todavia, não se limita a minha vida carregada de experiências e aprendizados como a de inúmeras mulheres – eu costumo dizer em tom jocoso (e sincero) não custa puxar o "nada consta" – ele propõe a reflexão e o incentivo a liberdade feminina que clama apesar de emudecida (nesses e outros contextos) por novas oportunidades. Eis aqui, de igual forma, um chamamento para, atentos, nos colocarmos a postos em prol de nossas irmãs vítimas de violência doméstica; eis aqui um convite aberto para lustrarmos nossas colheres preparadas a se meterem em defesa de esposas (amantes, namoradas, companheiras, ficantes...) maltratadas e oprimidas por homens violentos. 

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Apesar de íntimos

 Não gosto desse jeito intrometido que induz a gente a acreditar que somos compatíveis sem sermos recíprocos. Quando a intimidade é compartilhada e mútua, ainda vai... como a ida que compõe a vida e faz desse cruzar de ciclos interessante... quando não, ela equivale a invasão confusa de uma liberdade excessiva, lúdica e exaustiva. Isto, que fique claro, sou eu apegada a minha memoria não declarativa que dá noticia pelas mil poesias – que escrevi – daquilo que aprendi e transfiro pelos bons frutos que colhi/colho. É preciso desmantelar as juras de amor para amar sem ilusões vigentes.  Nunca foi proibido sonhar com o improvável, mas não é recomendado esquecer do possível. Como o esqueleto da ciência o da nossa alma deveria estruturar isto que é da ordem do viável. Essa é a beleza dos afetos derramados sem mágoas: a possibilidade que eles têm de tirar, das más águas, quem se afunda no outro sem mergulhar em seus receios. Isto nos instiga a nadar na nossa intimidade para de forma amigável sermos livres sem entrarmos onde não há abrigo; isto nos compele a sermos cada vez menos invasivos apesar de íntimos.










quinta-feira, 1 de julho de 2021

Eu bem queria...

Eu bem queria que a terra fosse uma extensão do paraíso, como um deck do céu com open bar incluso a quem sobreviver as fragilidades do ego humano, todavia ela é só uma orla barrando ondas – com seus lixos e luxos sem separá-los.

Eu bem queria caminhar pelos trilhos da lucidez sem me embriagar com seus desatinos preparados no cálice da razão;  e quem sabe alcançar com um abraço o saguão da alma alada que vaga e divaga no marasmo das hipóteses que criou...

Eu bem queria... hoje não quero...  já me conformei com o (im)possível permitido por essa terra que soterra qualquer céu (sem estrelas que irradiam amor) e simplesmente vivo em paz.