terça-feira, 26 de outubro de 2021

Sete anos

Quanto tempo leva para estabilizar o mal estar de alguém? Como escutar a angústia de um sofredor patológico? Para quê promover o diálogo a quem vive de monólogos? O que seu estudo faz por gente assim? A pesquisa cura, monetiza ou trata? Em pouco mais de um mês completamos sete anos. Avisa a família – com todo respeito – que se forem ler isto: a ética desta carta esta na poética dela.

Nós que nos enfrentamos e discordamos o tempo inteiro, desconstruímos a velha ideia de vínculo para co-construir um só nosso – tomados de vaidade (porque a modéstia passou longe de ambos) e de inclusão. Afinal é sempre assim: eu o ouço e discordo (faço jus a alcunha de resistente), você me ouve dando corda (eu o vejo como insistente) e no fim a gente concorda pelas nossas trocas tão fecundas e pelo manejo que têm. Uma clássica relação terapêutica e constitutiva.

Sei que é admirado dentro e fora daqui; sei que é um dos meus exemplos, apesar de pesquisar ainda não pulsar no meu coração – especialmente quando sou a investigada da vez (brincadeirinha); sei que você me ensinou que, às vezes, sou  exagerada – mas o que é a vida sem  hipérboles (te pergunto)? Ela pode ser sóbria ou apática, depende de como isso ajuda ou prejudica – vai da pessoa.

Então, recapitulei inúmeras vezes que falei de você para alguém e a maioria delas como o anúncio de uma batalha, porque não é fácil lidar com a coragem de quem peleja com a gente na contramão da desesperança e desamparo – e esta, quem sabe , não é a melhor forma de indicar alguém: honrando quem te ajuda?

A ideia de que vou compartilhar o contato de quem media a cura em mim só é positiva se for ornada pela verdade mais genuína que aprendi a seu respeito: extremamente arrogante (por arrogar a astúcia que de fato tem), perspicaz além da conta e incrivelmente acolhedor, apesar de humano e por assim ser: falho, como os demais mortais. E é por tudo isso que ainda o recomendo, pela sua capacidade de vincular-se a gente como eu: estupenda, apesar das minhas legítimas inquietações, e especial dentro de um padrão absurdamente questionável – que você ampara, trata e acolhe, ainda bem.







terça-feira, 19 de outubro de 2021

Um número a mais

 

Houve um período em que relutei ser só um número, hoje não mais. O mesmo número pode ser diminuído, mas somado e apesar de dividido se multiplicar. Na matemática da vida a gente dobra, triplica, dizima, zera... Existe um cálculo dentro dos sentimentos que efetuamos em conjunto ou não. Às vezes, somos ímpares, outras somos pares. Enquanto cifras mensuramos tamanho, volume, largura, abrimos e fechamos espaços – estamos abaixo do ponteiro vendo o tempo passar de camarote. Participamos de um todo mesmo quando fracionados (matemáticos não me julguem, apenas uso de metáforas). Nossa visão de mundo depende muito da nossa perspectiva.  Em que ângulo você está neste instante? Estou a 360°. Agora escrevo uma alegoria, em seguida a descrição de uma foto e amanhã circularei tudo de novo ou ao contrário. E se eu amanhecer diminuída posso parear-me com quem soma e elevar meu ânimo a décima potência ou refletir no resultado das minhas escolhas que totalizei até aqui. Não se chega a uma solução sem números. A vida é uma incógnita e isso não precisa ser desgastante. Tudo bem se atualmente me enxerga como um seis e no futuro como um nove; tudo bem se você for oito e eu for dois igual a dez (e vice-versa), daqui uns dias eu posso ser cinco e você cinco – o importante é como nos confirmamos no problema da vez quando nem sempre formos recíprocos.

 

 






segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Para quem fez a (in)diferença,

Hoje, lembrei de quando era indiferente aos meus olhos. Você parecia que me conhecia, revelava-se encantado comigo; tinha a palavra fluída e os ouvidos entupidos, dizia escutar meu silêncio só que atropelava minha voz. Nós trocávamos olhares carregados de dúvidas e eu questionava o fato de não sentir nada quando todos te aclamavam. Naquela época tive sua atenção e você minha concentração. Tudo mudou. Fui ganha pelos versos sussurrados no peito e convencida por ditados passionais. 

Era nítido que esnobava meu potencial, nunca compreendi onde o decepcionei. Sei, direitinho, onde ruiu o arranha céu que ergui – foi na exposição do meu carinho sem eu saber. Abriu meus diários sem tocá-los, supôs que eu o amava quando só admirava e alinhou sua maledicência com minha ingenuidade tímida e pueril. Foi em nossos desencontros que revi a porta que me levava de volta a minha vida. Já em nossos, famosos, encontros desfilavam farpas e por fim devoção.

Não tem mais como odiá-lo, o ódio é um sentimento amador que não cabe no amor que teci. Hoje percebo suas razões; te vejo grande e generoso pela vocação humana que aderiu. Se o ignoro é pelo retorno aos tempos idos quando tudo que eu tinha era indiferença apesar da sua grandeza. E sabe do que mais: te desejo o paraíso, contudo longe do oásis presente em mim.





sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Feliz dia dos professores

 Hoje os meus olhos se voltam para você, cheios de admiração e respeito. Longe de mim te observar de outra maneira se não com uma extensa gratidão pelas lições teóricas e de vida. Se eu pudesse te avaliar, simbolicamente, até a nota dez seria pequena. Toda dedicação, esforço e luta não tem passado batido aos olhares atentos de quem vê sua peleja diária – seu exemplo, somado a tudo isso, é o seu legado.  E é com todo meu carinho que agradeço pela paciência e ensino de qualidade que tive através de você. Obrigada por impulsionar, de forma tão eficiente, minha aprendizagem. Aqui fica meu reconhecimento e apreço mais genuíno por esse ofício lindo e árduo que é o seu. 

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Márcia

Que significa guerreira dentro ou fora da guerra;

Que responde por Marcinha;

Que atende por Japiassú;

Que é chamada de Japi;

Que ama Márcia Filha;

Que assina Amaro do italiano: Amargo;

Que não é João, mas é Batista;

Que tem "de Souza" como a maioria;

Que se pudesse escolher chamaria Moema;

Mas não descartaria Miranda – em homenagem a Priestly, Hobbes e Bailey 
 (referência é tudo);

Que se fosse homem escolheria Timóteo;

Só que se fosse mãe batizaria de Heitor,

Que tem muitas alcunhas para poucos papéis;

E seis nomes insuficientes para tanto amor.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Feliz dia das crianças...

 


Quando eu era só uma menina já manjava que esse lance de constituir família era mais profundo do que fazer todo mundo caber na foto. Meu propósito de vida era ter dois filhos de corpo e um de alma o que dá igual a três de criação, porque todos nós fomos criados e/ou nos criamos. Parir foi um objetivo até meus 23 quando descobri que nem tudo é o que parece ser. Engravidar para certas mulheres é dadivoso, para outras nem tanto e para mim se tornaria uma jornada cujo percurso definitivamente não me apetece/como nunca apeteceu.  Com o passar dos anos virei a chave, cogitei um sub emprego, me tornar "escritora fantasma", casar (isso passou) e reaver o projeto inicial da maternagem, agora, todo focado em adoção. Ainda falo em adotar uma menina, já tem nome e sobrenome, mas o que a vida reserva eu não sei. A maternidade já não é o carro chefe da minha existência. Confesso que, hoje,  quando vejo bebês, às vezes, reativo essa vontade de ter um. Neném, contudo,  cresce, sai da infância passa pela adolescência e quando damos por si já é "gente grande" e a grandiosidade da vida adulta nada mais é do que uma reviravolta ou a realização de sonhos idealizados nesse eterno devir (acabei de escrever isso e pensei que este "vir a ser" é posto para todas as fases do desenvolvimento... enfim...). Eu, por exemplo, queria ter parido com no máximo 25, adotado beirando uns 30;  e ter rodado, antes disso tudo, o mundo em um mochilão radical até encontrar pouso em algum vilarejo no sul do Brasil, porque meu país mesmo todo cagado tem chances de ser limpo (assim eu torço, voto e reivindico).  Hoje, estou aqui: me encontrando no estudo das trocas recíprocas, significativas e essenciais; aprendendo e vivenciando o processo de acolhimento, cuidado e conscientização; além de escrever em um blog alternativo e praticar a gratidão como mote de vida para me tornar uma pessoa ainda mais humana, idônea e gentil. Quero ter filhos? Quero, não sei se terei, talvez a natureza divina compreenda que o status de mãe não combina com meu perfil e tudo certo. Quiçá vivi tudo que vivi até aqui para lidar com o fato que filho não é só um "complemento para minha falta" e sim uma responsabilidade que eu posso não estar preparada para assumir? Só o amanhã dirá... enquanto isso celebro o presente que me pertence e eu dou conta de viver agora. Depois eu acesso essa menina como a acessei ainda há pouco — no dia das crianças (na verdade foi ontem) e daqueles que cresceram em contato com sua infância como eu – feliz por não me frustrar em meio aos labirintos que me levaram a ser alguém melhor do que imaginei. Se sou autêntica é porque me aceitei assim, com esse ar pacato e agir estratégico para não convencer as pessoas a seguirem meu modelo e sim para conviver com elas como de fato são: espontâneas e naturais.

domingo, 10 de outubro de 2021

Sem moderação


 


O amor legitima meu afetos mais nebulosos e representativos me constituindo como alguém melhor. A foto triste de antes não se alinha a experiência feliz do dia de hoje. E é esse instante que importa. O agora materializa a presença viva que munida de experiências edificam no centro do meu coração uma força estrutural – cerne do meu mover dirigido pela boa vontade que me conduz a simplicidade da paz. Por paz, entendo a serenidade para assimilar as trocas recíprocas (ou não) sem perder o rumo. Aliás, é sem atalhos que caminho pelas veredas mais íngremes e incríveis, são nelas que reponho as energias gastas atrás do sossego. Sossego este que ancora a sanidade. Não como quem desliza de um polo ao outro, meu humor é sazonal e minha alma não , rogo – atrevo – no #diadasaúdemental, que permitam-se viver o autocuidado e cuidado de fora: deixem que o carinho derramado te acolha com jeito e zelo. Vê lá se você não é aquela pessoa que se percebe indigna de compaixão e por isso se enxerga como causa perdida, saiba: nenhuma causa está perdida se nela encontra-se o sopro da vida. Onde há fôlego há brechas para a saúde e o bem estar se estabelecerem sobre todo mal. Tire um tempo para apreciar-se... e cuide-se sem moderação.