segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Urna

Quanto mais perto chego dos quarenta anos mais eu aperto os trinta e sete – uma das minhas melhores idades. Às vezes, o tempo se fecha no vão do imprevisto e a surpresa abre espaço para o susto. Esses dias mesmo, até dormindo acordada não despertei o sonho dos meus sentimentos — não queria precipitá-los com pressa. Isolada fui povoada de reflexões: como não me sentir privilegiada pela assistência médica, familiar e fraterna que tenho? Dez dias entre quatro paredes não me privaram de atravessá-las com a fé situada no cerne da minha vulnerabilidade. A esperança que consumo eu distribuo quando assino essa ideia que publico. Serei urna de amor com votos de ódio? Não sei. Só circulo com a ternura sem distorcê-la. Isto conduziu-me a falácia que há por traz do ditado "a ignorância é uma benção" – nunca foi – a consciência, na verdade, aplicada na prática da cidadania é o que 'abençoa' tudo e todos. Porém, quem sou eu? Apenas uma vida que vocifera por outras vidas sem espaço para soltar a voz enquanto a dor as domina e machuca.