quinta-feira, 15 de julho de 2021

Ponto final

Mas ela caçou, ela procurou, ela achou, ela mereceu – disse o homem, tomado de autocomiseração, que a agrediu. Um ser vociferando, manipulando, diminuindo e espancando quem não consegue se defender sozinho. Gente assim, que se despe de sua humanidade para aderir a selvageria física e emocional não tem escrúpulos. São pessoas escudadas pela intolerância; que se blindam com a cortesia pública, mas, atacam preferencialmente sem testemunhas. 


Há mulheres e mulheres  questionando a razão da fúria alheia que as machucam, como se fossem culpadas pelos ataques que sofrem; há homens e homens lançando sobre suas vítimas a responsabilidade de seus atos ao acusá-las de ter provocado os próprios a agirem assim. Alguns dizem: o sistema é falho, a culpa é da família, a pessoa não está certa das ideias e por aí vai. Contudo, mesmo que haja a busca por respostas para esse tipo de atitude e seja ofertada alguma ajuda a esses agentes de violência (porque tem, é importante frisar isto): como fica a mulher que apanha e é humilhada em todas as esferas; como sair de uma relação tenebrosa igual essa se ainda hoje muita gente finge que nada aconteceu e se cala omitindo apoio, privando elas de serem resgatadas de uma vida de dores e enganação só para se resguardarem ao não se envolverem?

Isso tudo sem falar que os algozes fazem qualquer coisa para descredibilizar as vítimas ao desestabilizá-las e expor seus “erros e defeitos". Pessoas assim são possessivas, acusam quem torturado é e buscam se eximir dos danos que provocou e provocam. Milhares e milhares de mulheres são silenciadas e destratadas por seus companheiros sem perspectiva nenhuma de serem livres rapidamente. Fico triste e penso que, por várias vezes, de forma "mais tímida" (inclusive por não aceitar) já vivi algo similar nas minhas antigas relações. De fato nunca fui agredida fisicamente por namorado algum, mas tive parceiros que me culpabilizaram por muita coisa deles que não era minha; vivi, e me ato a não compartilhar tudo, abusos psicológicos de toda natureza até pôr um ponto final nos mesmos e ainda sair de ruim na história, o que – pasmem – é típico.

Este texto, todavia, não se limita a minha vida carregada de experiências e aprendizados como a de inúmeras mulheres – eu costumo dizer em tom jocoso (e sincero) não custa puxar o "nada consta" – ele propõe a reflexão e o incentivo a liberdade feminina que clama apesar de emudecida (nesses e outros contextos) por novas oportunidades. Eis aqui, de igual forma, um chamamento para, atentos, nos colocarmos a postos em prol de nossas irmãs vítimas de violência doméstica; eis aqui um convite aberto para lustrarmos nossas colheres preparadas a se meterem em defesa de esposas (amantes, namoradas, companheiras, ficantes...) maltratadas e oprimidas por homens violentos.