domingo, 13 de fevereiro de 2022

Amiga,

Tinha acabado de perder minha melhor amiguinha quando chegou; passava pelo desmame da medicação que usei por oito anos e havia pousado em Goiânia (Go) – onde nasci – depois da minha primeira infância no interior do estado. Ser a criança com uma voz andrógina era triste e achei que após a partida precoce da minha primeira amiga ia ser difícil fazer novas amizades. Mas aí fomos matriculadas na mesma escola e admito ao olhar para trás que não tinha muita chance de dar certo. Você veio da maior metrópole do país, uma das maiores do mundo, enquanto eu tinha chegado de uma minúscula cidade a 90 quilômetros. Com sua pouca idade já era genial e extremamente inclusiva, sorte a minha. A pergunta que fica é: quem iria aguentar uma garotinha introvertida, nos idos anos 90, que orava na capela durante o recreio e depois batia nos meninos que a ofendiam por causa do seu vozeirão no fim da aula? A resposta é: você.  ATENÇÃO: crianças, não batam em seus colegas – reportem-se as autoridades.  Até parece que nada mudou: três décadas se passaram e segue incluindo, ouvindo, protegendo, observando, aconselhando... Uma das criaturas mais generosas que conheço. Conservada por dentro e por fora, mantém o coração conectado ao sorriso de sempre. Maravilhosa! Sei que nossa genética espiritual é a mesma – não em vão muitos pensam que a gente é parente. Isso deve ficar mais evidente agora que vou voltar a usar óculos. A propósito, amo a família que construiu – sou só carinho e orgulho! A expressão escolhida para resumir meu contentamento é "valeu demais". São trinta anos que me aguenta e nesse intervalo de tempo tanta gente veio, foi e ficou; nesse ínterim nos desentendemos tão pouco e até morando longe mantivemos a parceria.  Que bom por tudo e especialmente pela sua paciência, esta homenagem é em virtude do longo cuidado que tem comigo – e com seus demais contatos – e da nossa relação. "Cadê os defeitos dela?" – esmiúçam os curiosos. Não penso em defeitos... Prefiro defesas, algo meu e do ser humano como um todo. Somos, em geral, errantes e isso é comum. E se a honro hoje, com esta carta aberta começada com 'amiga', é para ressaltar o seu valor como pessoa e o meu amor de irmã.




Gratidão.

🎁


À Alê 

Ass.: Marcinha