terça-feira, 24 de maio de 2022

Para ler daqui trinta anos,

 Olá, como você está? Eu sei que essa perguntinha, com viés fenomenológico, te emociona. Vim compartilhar contigo um pouco da sua vida aos 38 anos. Foi bem intenso a primeira metade de 2022. Era o final do curso de psicologia e seus ideais se fundiam com a esperança de um mundo melhor para cada uma das pessoas que amava. Amar sempre foi o mote dos seus textos; já da sua vida – ao menos por hora – confesso que tenho minhas dúvidas; a senhorita é muito intensa. Enfim, o incrível de ser uma mulher de quase 40, nessa época forjada por notícias falsas vindas de todos os lados, é a força da verdade em cada um dos seus atos. Não sei como que isto funciona em 2052, só que aqui de onde escrevo tudo é muito polémico e pouco dialogado. É como se as pessoas tivessem medo de se colocar sem retirar da conversa o tom irônico utilizado como ferramenta de argumentação que na maioria das vezes hostiliza e humilha o outro. Isso foi parte da sua peleja, então, torço para sua vitória em prol do respeito que tanto lutou. Houve, sim, um tempo em que fora bem diplomática, polida e quase nada cínica (porque todos nós somos um bocado), só que como fruto dos seus muitos anos de terapia individual, manteve-se empática sempre que possível. Admito que a simpatia sempre foi seu fraco, todavia a empatia o seu forte. O exercício de se colocar no lugar do outro foi fundamental para superação dos seus maiores adversários: o medo e a carência. E ser carente foi imprescindível para constitui-la potente como é. Ou era? Espero que continue... Aos 38 você era, como dizem, “fora da curva”. E só para lembrá-la: seus três sobrinhos lindos, dois gêmeos e uma garota, têm respectivamente 10 meses e 4 anos e meio. A melhor pessoa do seu ciclo se revelou bissexual e casou-se com outra mulher (fantástica por sinal). O presidente vigente é uma lástima. O Dudu e a Luna completam 12 em breve. Seu carro precisa de uma revisão urgente. Você escreve quase todos os dias, embora não leia o quanto gostaria. Ainda segue solteira, desempregada e nada acomodada. Não sei se conseguiu, mas estava nos seus planos adotar uma criança de seis antes dos 50. Sua psicóloga tem sobrenome italiano e é maravilhosa... E sua mãe canta lindamente. Tudo que mais almejou na vida era ter saúde, contudo anela mesmo é por paz. A serenidade dispensa esse “bem-estar” distorcido que pessoas usam, às vezes, nas redes. Por falar nisso, como vai a vida online? Só para saber: tirou o período sabático que queria longe das fofocas? Você adorava as novidades dos famosos, a gíria presente para os burburinhos é “bafão”. Interessante, todavia, é que nunca foi fofoqueira, talvez por ser bem tratada se tratando bem; o que assanha sua curiosidade mesmo são as fases do silencio que a constituí. É como se as camadas de afeto despejados em suas poesias surgissem do seu lado mais contido e tímido. Só quem te conhece sabe... e como sabe... Basta segurar na sua mão para te fazer vibrar. Abraçá-la, então, ativa seu pseudônimo preferido e não cabe dizê-lo aqui para poupar seus leitores. Como você se ama; e esse autoamor te emancipou para uma interdependência, cuja reciprocidade vive no convívio com seus pares, que te confirma como autora da sua história. Muita gente te acha metida por isto – dane-se, reforço positivo é vida e reforçar-se é uma benção. Tomara que o futuro tenha sido generoso e gentil contigo e você com ele, sem afobá-lo para juntos salvar o mundo. O mundo não precisa de salvação, ele precisa de transformação e se manteve-se calma, terá sido agente desta ação transformadora que o planeta pede.

Quando puder me responda. Estamos juntas.

Carinhosamente

Márcia Japiassú