quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Feliz dia das crianças...

 


Quando eu era só uma menina já manjava que esse lance de constituir família era mais profundo do que fazer todo mundo caber na foto. Meu propósito de vida era ter dois filhos de corpo e um de alma o que dá igual a três de criação, porque todos nós fomos criados e/ou nos criamos. Parir foi um objetivo até meus 23 quando descobri que nem tudo é o que parece ser. Engravidar para certas mulheres é dadivoso, para outras nem tanto e para mim se tornaria uma jornada cujo percurso definitivamente não me apetece/como nunca apeteceu.  Com o passar dos anos virei a chave, cogitei um sub emprego, me tornar "escritora fantasma", casar (isso passou) e reaver o projeto inicial da maternagem, agora, todo focado em adoção. Ainda falo em adotar uma menina, já tem nome e sobrenome, mas o que a vida reserva eu não sei. A maternidade já não é o carro chefe da minha existência. Confesso que, hoje,  quando vejo bebês, às vezes, reativo essa vontade de ter um. Neném, contudo,  cresce, sai da infância passa pela adolescência e quando damos por si já é "gente grande" e a grandiosidade da vida adulta nada mais é do que uma reviravolta ou a realização de sonhos idealizados nesse eterno devir (acabei de escrever isso e pensei que este "vir a ser" é posto para todas as fases do desenvolvimento... enfim...). Eu, por exemplo, queria ter parido com no máximo 25, adotado beirando uns 30;  e ter rodado, antes disso tudo, o mundo em um mochilão radical até encontrar pouso em algum vilarejo no sul do Brasil, porque meu país mesmo todo cagado tem chances de ser limpo (assim eu torço, voto e reivindico).  Hoje, estou aqui: me encontrando no estudo das trocas recíprocas, significativas e essenciais; aprendendo e vivenciando o processo de acolhimento, cuidado e conscientização; além de escrever em um blog alternativo e praticar a gratidão como mote de vida para me tornar uma pessoa ainda mais humana, idônea e gentil. Quero ter filhos? Quero, não sei se terei, talvez a natureza divina compreenda que o status de mãe não combina com meu perfil e tudo certo. Quiçá vivi tudo que vivi até aqui para lidar com o fato que filho não é só um "complemento para minha falta" e sim uma responsabilidade que eu posso não estar preparada para assumir? Só o amanhã dirá... enquanto isso celebro o presente que me pertence e eu dou conta de viver agora. Depois eu acesso essa menina como a acessei ainda há pouco — no dia das crianças (na verdade foi ontem) e daqueles que cresceram em contato com sua infância como eu – feliz por não me frustrar em meio aos labirintos que me levaram a ser alguém melhor do que imaginei. Se sou autêntica é porque me aceitei assim, com esse ar pacato e agir estratégico para não convencer as pessoas a seguirem meu modelo e sim para conviver com elas como de fato são: espontâneas e naturais.