Hoje,
lembrei de quando era indiferente aos meus olhos. Você parecia que me conhecia,
revelava-se encantado comigo; tinha a palavra fluída e os ouvidos entupidos,
dizia escutar meu silêncio só que atropelava minha voz. Nós trocávamos olhares
carregados de dúvidas e eu questionava o fato de não sentir nada quando todos
te aclamavam. Naquela época tive sua atenção e você minha concentração. Tudo
mudou. Fui ganha pelos versos sussurrados no peito e convencida por ditados
passionais.
Era nítido que esnobava meu potencial, nunca compreendi onde
o decepcionei. Sei, direitinho, onde ruiu o arranha céu que ergui – foi na
exposição do meu carinho sem eu saber. Abriu meus diários sem tocá-los, supôs
que eu o amava quando só admirava e alinhou sua maledicência com minha
ingenuidade tímida e pueril. Foi em nossos desencontros que revi a porta que me
levava de volta a minha vida. Já em nossos, famosos, encontros desfilavam farpas
e por fim devoção.
Não tem mais como odiá-lo, o ódio é um sentimento amador que
não cabe no amor que teci. Hoje percebo suas razões; te vejo grande e generoso
pela vocação humana que aderiu. Se o ignoro é pelo retorno aos tempos idos
quando tudo que eu tinha era indiferença apesar da sua grandeza. E sabe do que
mais: te desejo o paraíso, contudo longe do oásis presente em mim.