segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Para quem fez a (in)diferença,

Hoje, lembrei de quando era indiferente aos meus olhos. Você parecia que me conhecia, revelava-se encantado comigo; tinha a palavra fluída e os ouvidos entupidos, dizia escutar meu silêncio só que atropelava minha voz. Nós trocávamos olhares carregados de dúvidas e eu questionava o fato de não sentir nada quando todos te aclamavam. Naquela época tive sua atenção e você minha concentração. Tudo mudou. Fui ganha pelos versos sussurrados no peito e convencida por ditados passionais. 

Era nítido que esnobava meu potencial, nunca compreendi onde o decepcionei. Sei, direitinho, onde ruiu o arranha céu que ergui – foi na exposição do meu carinho sem eu saber. Abriu meus diários sem tocá-los, supôs que eu o amava quando só admirava e alinhou sua maledicência com minha ingenuidade tímida e pueril. Foi em nossos desencontros que revi a porta que me levava de volta a minha vida. Já em nossos, famosos, encontros desfilavam farpas e por fim devoção.

Não tem mais como odiá-lo, o ódio é um sentimento amador que não cabe no amor que teci. Hoje percebo suas razões; te vejo grande e generoso pela vocação humana que aderiu. Se o ignoro é pelo retorno aos tempos idos quando tudo que eu tinha era indiferença apesar da sua grandeza. E sabe do que mais: te desejo o paraíso, contudo longe do oásis presente em mim.