terça-feira, 7 de setembro de 2021

Das coisas lindas que aprendi até aqui...

Logo no início da graduação de psicologia entrei em alguns grupos de estudos com pensamentos divergentes, embora tivessem a mesma intenção: ensinar e aprender/aprender e ensinar – como uma constante troca. E foi em um desses grupos que conheci um autor que fala algo como “nós psicólogos queremos que os clientes nos procurem a fim de se envolver com o processo de transformação, quando na verdade eles nos procuram querendo alívio.” Eu que não entendia quase nada, tive um estalo. Isso não foi porque sorvi o papel de psicoterapeuta, longe de mim (naquelas circunstâncias eu era uma caloura) e, sim pela minha longa jornada como cliente. Era exatamente sobre isto: buscar alívio sem se “envolver” muito.

Talvez, a grande questão é que chega um momento em que a gente esquece desse efeito especial que uma boa leitura provoca no leitor e se acomoda de novo até, ao menos comigo, se deparar com outro “afronte” similar a esse – recentemente li, agora já no nono período, algo assim: “nós queremos ser tratados e não nos tratar”,  e foi aqui que tive o “insight” de seis períodos atrás – quando essa autora, até então desconhecida, elucidou muita coisa pra mim.

E como sói acontecer, puxei as lições acima para as minhas próprias experiências, fiquei pensando em Kierkegaard ou seria Sartre que chama a reflexão sobre “o que estou fazendo com o que fizeram da mim?” estudiosos dirão que a frase é outra – tomei nota disso (risos), todavia não é assim que ele nos provoca, já que é isso que importa? Fique, muitos anos, estagnada, até entender que quando a última escritora que citei lá em cima ao falar “nos tratar” se refere, na verdade, a fazermos nossa parte já que somos os principais interessados nisso. Não existe fórmula mágica no processo psicoterápico, milagres também não, o que existe é o encontro com o outro e consigo mais uma entrega firmada na coragem – para profissionais da área “psi” isto chega a ser um clichê, eu imagino.

Aos catorze anos fui a uma profissional que me atendeu por toda minha adolescência e parte da minha juventude, e ela falou algo na minha primeira sessão que ainda levo comigo, eu era muito tímida, quando a própria disse: “Márcia, eu preciso que você fale não para que eu te escute apenas, mas para que você se escute”. Tenho eu escutado minha voz? Vinte e poucos anos depois, percebo que sim de uma forma mais leve até – aprendi com o tempo e alguns clubes sociais regimentados por uma dúzia de sugestões: a ‘não me levar tão a sério’, isto é, não me cobrar demais. E essa ideia combina com a auto escuta convidada pelo ouvido do outro, estimulando a responsabilidade sem culpar. Aprendi assim: é possível ficar “aliviada” enquanto mudamos a forma como nos tratamos – não mais presos ao costume de ter quem faça isso pela gente – e sim com tolerância, cuidado, respeito e a compreensão de que nossa colaboração nesse movimento nos leva a evoluir bem.